O novo painel sobre vacinas indicado pelo secretário da Saúde norte-americano, Robert F. Kennedy Jr., retirou a recomendação geral de vacinação para covid-19, deixando a toma da dose a escolha individual.
Numa série de votações na sexta-feira, os conselheiros dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) não recomendaram especificamente as vacinas para o novo coronavírus, e instaram à adoção de linguagem mais firme sobre os alegados riscos da vacinação, ideia a que se opõem grupos médicos externos, que afirmam que as vacinas têm um histórico de segurança comprovado.
Uma proposta do Comité Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP, na sigla em inglês) para instar os estados a exigirem receita médica para a vacina para a covid-19 não foi aprovada por pouco.
A decisão surge depois de o regulador da alimentação e medicamentos (FDA, na sigla em inglês) impor novas restrições às vacinas deste ano da Pfizer, Moderna e Novavax, reservando-as para pessoas com mais de 65 anos, consideradas de maior risco para o vírus.
Sean O'Leary, da Academia Americana de Pediatria, classificou à AP a decisão de não recomendar a vacinação como "extraordinariamente vaga" e afirmou que esta teria "impactos em tempo real nas crianças".
A discussão de hoje envolveu esforços claros para "semear a desconfiança" em relação às vacinas, adiantou.
"Foi uma reunião muito, muito estranha", resumiu O'Leary.
Os dados dos CDC mostram que as vacinas contra a covid-19 protegem contra infeções graves e morte, embora não evitem infeções.
Tal como as vacinas para a gripe, as vacinas da covid-19 são agora atualizadas anualmente, dada a evolução do vírus.
Contudo, apenas cerca de 44% dos idosos e 13% das crianças tinham a vacinação contra o novo coronavírus em dia no ano passado, segundo os CDC.
“Não acho que seja sensato se fizermos uma recomendação que as pessoas simplesmente não vão seguir”, justificou Cody Meissner, do Dartmouth College, membro do painel.
Outra questão invocada diz respeito a um efeito secundário muito raro, sobretudo em homens jovens — um tipo de inflamação cardíaca chamada miocardite — que foi descoberto no início da vacinação em 2021.
Hoje, o painel nomeado por Robert Kennedy Jr., figura de destaque do movimento antivacinas, centrou-se na vacinação contra a covid-19, uma vez que o vírus continua a ser uma ameaça à saúde pública.
Os dados dos CDC divulgados em junho mostram que no último outono e inverno o vírus resultou em 32.000 a 51.000 mortes no país e mais de 250.000 hospitalizações.
Os grupos com maior risco de hospitalização são os idosos e as crianças — especialmente os que não foram vacinados.
Importantes grupos médicos, incluindo a Academia Americana de Pediatria, já emitiram recomendações para que, tal como em anos anteriores, as vacinas sejam disponibilizadas a qualquer pessoa com 6 meses — incluindo grávidas.
Vários estados norte-americanos anunciaram políticas para tentar garantir esse acesso, independentemente da decisão do painel.
Um grupo que representa a maioria das seguradoras de saúde, o America's Health Insurance Plans, afirmou no início desta semana que os seus membros continuarão a cobrir as vacinas até 2026.
Sobre a possibilidade de retirar uma recomendação de longa data dos CDC de que todos os recém-nascidos sejam vacinados à nascença para hepatite B, os conselheiros decidiram-se hoje por um adiamento da decisão.
Na quinta-feira, primeiro dia da reunião, os especialistas decidiram que a primeira dose da vacinação para crianças com menos de quatro anos de idadeserá agora feita através de duas vacinas distintas: uma injeção contra sarampo, papeira, rubéola (VASPR) e outra apenas contra a varicela.
Desde 2009, os CDC afirmam preferir doses separadas iniciais destas vacinas, e 85% das crianças pequenas já o fazem.
As taxas de vacinação têm vindo a recuar no país desde a pandemia de covid-19.
A proporção de crianças em idade pré-escolar vacinadas contra o sarampo desceu a nível nacional de 95% em 2019 para 92,5% em 2024, com variações regionais significativas.
Como resultado deste declínio nas taxas de vacinação, os Estados Unidos vivem em 2025 a sua pior epidemia de sarampo em mais de 30 anos, com três mortes, incluindo duas crianças.
Segundo uma sondagem divulgada na terça-feira, a vacinação recomendada para crianças nos Estados Unidos é evitada ou adiada por um em cada seis pais, que indicam falta de confiança nas vacinas e nas autoridades de saúde.
Conduzida pelo The Washington Post e pela organização sem fins lucrativos KFF, a sondagem a mais de 2.500 pais mostra que a grande maioria destes continua a apoiar as atuais exigências de vacinação.