Um consórcio de nove instituições europeias e africanas, incluindo Moçambique, lançou o projeto MultiplexAI, uma iniciativa que utiliza inteligência artificial para ajudar a agilizar e melhorar o diagnóstico de doenças visíveis ou detetáveis numa amostra observada ao microscópio.
O projeto – financiado pela União Europeia – transformará um microscópio convencional num "dispositivo inteligente" e levará o diagnóstico especializado diretamente ao ponto de cuidados primários, o que, segundo os responsáveis, multiplica as possibilidades de tratar o paciente de forma mais rápida e precisa.
A iniciativa, apresentada hoje em Madrid, será coordenada pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).
O projeto dispõe de um financiamento europeu de cinco milhões de euros durante quatro anos, período no qual o consórcio procurará reforçar a capacidade diagnóstica local, reduzir erros nos diagnósticos e avançar no conceito de "cobertura sanitária universal".
No evento em Madrid estiveram presentes os investigadores Quique Bassat Orellana (do ISGlobal, Espanha), Gloria Dada Chechet (da Universidade Ahmadu Bello, Nigéria) e Miguel Luengo Oroz (da SpotLab, Espanha), em representação de centros de investigação e empresas de seis países envolvidos no projeto (Nigéria, Moçambique, Costa do Marfim, Etiópia, Itália e Espanha).
As doenças parasitárias, como a malária e algumas doenças tropicais negligenciadas, continuam a ser uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em países de baixo e médio rendimento, onde o diagnóstico ainda depende da microscopia manual — um método trabalhoso, variável e que exige pessoal especializado.
Segundo os promotores, o MultiplexAI validará clinicamente um sistema capaz de fornecer diagnósticos rápidos, precisos e acessíveis no próprio ponto de cuidados de saúde, analisando imagens microscópicas de amostras de sangue para identificar padrões de doença.
Em seguida, um modelo de inteligência artificial executado num telemóvel, ligado a um microscópio com um adaptador impresso em 3D, fornecerá resultados especializados em tempo real, garantiram os responsáveis.
O sistema foi concebido para funcionar 'offline' e ligar-se a uma plataforma de medicina 'online' sempre que haja acesso à internet, sendo validado em ensaios clínicos em África e na Europa.
"Muitas vezes, os locais que mais necessitam de diagnósticos fiáveis são os que menos acesso têm", sublinhou Gloria Dada Chechet, manifestando convicção de que esta metodologia responde ao desafio de levar a análise especializada diretamente ao ponto de cuidados primários.