O diretor clínico dos serviços sociais da Câmara de Lisboa diz que as clínicas de proximidade podem servir de exemplo para uma “revolução tranquila” na saúde, com uma “verdadeira municipalização” e a abertura do modelo C às autarquias.
“O decreto de lei que faz a transferência das competências de saúde do Estado Central para as autarquias é muito limitativo relativamente às câmaras. Põe-nas a tomar conta da frota, dos jardins, dos elevadores, das condições do edifício, mas falta-lhe a essência, que é a gestão das pessoas da saúde”, defende Rui Julião.
Responsável pelas duas clínicas de proximidade que abriram em Lisboa, num projeto da autarquia que envolveu os serviços sociais e a empresa municipal Gebalis, diz que a intenção “não é criar mini-serviços nacionais de saúde”.
“É, na realidade, dar alguma abertura a que se melhore, quer do ponto de vista do horário, quer do ponto de vista da escolha dos profissionais de saúde”, afirmou.
Em declarações à Lusa, diz que não faz sentido que, podendo as clínicas de proximidade resolver 90% das situações, as pessoas tenham de sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde, onde há muita dificuldade de acesso, sobretudo por quem não te médico de família.
“Eu sou um adepto desde sempre da municipalização da saúde, porque acho que os municípios são como se fosse um patamar intermédio antes de recorrer aos hospitais centrais”, defende.
Questionado sobre o alargamento previsto pelo Governo das Unidades de Saúde Familiar modelo C, geridas por privados ou setor social, às áreas com baixa cobertura de especialistas de medicina geral e familiar, defende antes que se devia optar por fazer “projetos-piloto” com os municípios.
“O modelo C é ir buscar profissionais de saúde que não estejam ligados ao Serviço Nacional de Saúde nos últimos três anos, quer médicos, quer enfermeiros, e dar médico de família a quem não tem”, explicou, sublinhando que se se avançasse com as autarquias “todos tinham a ganhar”.
Dando o exemplo da clínica de proximidade da Alta de Lisboa, onde mais de 50% das pessoas não têm médico de família, afirma: “retira-se carga da urgência e melhora-se a qualidade de vida das pessoas. E este é o nosso grande objetivo".
Questionado sobre as condições necessárias para que isso acontecesse e sobre a recorrente falta de recursos humanos no SNS, defende: “Contrariamente àquilo que normalmente se ouve, que os médicos e os enfermeiros andam sempre atrás de dinheiro, não é verdade”.
“É que não é mesmo verdade. Aos profissionais de saúde interessa-lhes fundamentalmente um projeto. A seguir ao projeto, as condições para o desenvolvimento desse projeto, porque isso é importante. E, por último, o vencimento”, acrescentou.
Confessa que tem médicos disponíveis para integrar esta unidade de saúde sobretudo por causa do projeto das clínicas de proximidade e sublinha: “Um deles trabalha no privado”.
“Se nós vamos enveredar por um novo modelo, que é o novo modelo C, mais uma vez digo que sou a favor de projetos-piloto com autarquias. Vamos escolhê-las, antes de ser aberto a tudo o que é privado”, defende.
Diz, contudo, que é essencial nestes casos escolher pessoas com experiência em gestão da saúde: “Têm que ser pessoas que sejam detentoras de conhecimento e com experiência na área da saúde”.