Ministros da Saúde africanos e líderes mundiais de saúde apelaram ontem a uma resposta urgente contra a malária, alertando para uma “tempestade perfeita” de desafios que pode reverter os progressos feitos em África nas últimas duas décadas.
"A malária está na linha da frente da segurança sanitária em África", declarou o diretor regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, Mohamed Yakub Janabi, acrescentando que é preciso "responder com agilidade às ameaças emergentes e superar esta tempestade perfeita", caso contrário corre-se o risco de perder os avanços conquistados.
A reunião, realizada no âmbito do 75.º Comité Regional da OMS para África (RC75), em Lusaca, capital da Zâmbia, destacou que, apesar de uma redução de 16% na incidência da doença entre 2000 e 2023, a região africana da OMS continua a suportar mais de 95% da carga mundial de malária.
As autoridades alertaram que os programas enfrentam riscos crescentes devido a orçamentos cada vez mais limitados, resistência a medicamentos e inseticidas e a propagação de espécies invasoras de mosquitos.
Além disso, fenómenos climáticos extremos estão a alterar os padrões de transmissão, enquanto as crises humanitárias aumentam a vulnerabilidade e os cortes no financiamento dos doadores pressionam ainda mais os sistemas nacionais de saúde.
O diretor da Aliança RBM para Acabar com a Malária, Michael Adekunle Charles, enfatizou a importância do financiamento, afirmando que “os recursos atuais cobrem menos da metade do que é necessário a nível global" e que, para acelerar a eliminação da malária, é preciso "colmatar essa lacuna com investimentos internos ousados e apoio global contínuo”.
O ministro da Saúde da Zâmbia e presidente do RC75, Elijah Muchima, reafirmou o compromisso do país, destacando o trabalho do Conselho para o Fim da Malária, que mobilizou recursos públicos e privados para sustentar o controlo vetorial, adquirir insumos essenciais e apoiar mais de 18.600 trabalhadores comunitários com transporte para chegar às zonas rurais.
“Acabar com a malária deve ser uma prioridade que financiamos com recursos próprios, além do apoio de parceiros globais”, declarou Muchima, que também pediu a manutenção de mecanismos internacionais como o Fundo Mundial para a luta contra a SIDA, a tuberculose e a malária.
Já o vice-ministro da Saúde de Botsuana, Lawrence Ookediste, sublinhou a necessidade de uma ação conjunta para mobilizar recursos e garantir que a malária seja integrada nas agendas de desenvolvimento nacionais e regionais.
Os ministros reafirmaram o compromisso de enfrentar juntos a tempestade perfeita com vontade política, responsabilização e financiamento sustentável, a fim de proteger os avanços e impulsionar novamente o caminho de África para a eliminação da malária.
A reunião do Comité Regional da OMS para a África ocorre num contexto marcado pelos cortes drásticos na ajuda internacional impostos pelos Estados Unidos e por vários países europeus, que colocaram em risco a saúde e a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente no continente africano.