O Ministério da Saúde de Gaza recusou hoje a ordem do exército israelita de retirar todo o pessoal de saúde dos hospitais para o sul da Faixa antes da invasão terrestre planeada por Israel.
"O Ministério da Saúde expressa a sua rejeição de qualquer medida que possa minar o que resta do sistema de saúde após a destruição sistemática levada a cabo pelas autoridades de ocupação [israelitas]", afirmou, em comunicado.
De acordo com o ministério, esta medida "privaria mais de um milhão de pessoas do seu direito a cuidados médicos e colocaria seriamente em perigo a vida dos residentes, dos doentes e dos feridos".
O exército israelita divulgou hoje uma alegada chamada telefónica - com voz distorcida - entre um oficial do COGAT, a autoridade militar israelita responsável pelos territórios palestinianos, e um funcionário da saúde de Gaza, instando-o a deslocar-se com o seu equipamento para o sul do enclave.
"O exército vai proceder a uma evacuação completa da cidade de Gaza para o sul. É preciso que tenha um plano para deslocar o seu equipamento, para que possa também deslocar todos os doentes e feridos, e preparar os hospitais do sul para receberem os doentes do norte", afirmava o interlocutor.
O aviso começou a ser feito na terça-feira pela COGAT, de acordo com um comunicado citado pelas agências espanholas EFE e Europa Press.
"Como parte dos preparativos para a transferência da população da cidade de Gaza para o sul, (…) a direção de coordenação e ligação da COGAT emitiu os primeiros alertas aos médicos e organizações internacionais", disse o exército.
Os militares afirmaram que os hospitais no sul da Faixa de Gaza estavam a ser adaptados para "receber doentes e feridos, juntamente com um aumento na entrada de equipamento médico necessário, de acordo com os pedidos das organizações internacionais".
Os ataques aéreos israelitas à capital de Gaza, onde cerca de um milhão de pessoas - praticamente metade da população do enclave - se encontram abrigadas, aumentaram nos últimos dias, naquilo que a ONU descreve como uma "ofensiva em grande escala" contra a cidade.
Pelo menos oito pessoas foram mortas num ataque aéreo ao bairro de Sabra esta tarde, incluindo quatro crianças, de acordo com fontes médicas.
No dia 08, o gabinete de segurança israelita aprovou um plano para ocupar militarmente a cidade de Gaza e, com ela, todo o território palestiniano.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apelou numa declaração para que os preparativos fossem encurtados e a operação iniciada o mais rapidamente possível.
Segundo a ONU, 86,3% do território de Gaza já está sob ordens israelitas de evacuação forçada ou nas chamadas “zonas de combate”, deixando os palestinianos a viver em condições de sobrelotação nos poucos campos que restam e que não foram tomados pelos militares.
A ofensiva israelita já provocou mais de 62.100 mortos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas no sul de Israel, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.