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Associação alerta para o contínuo rapto de pessoas com albinismo em Moçambique

LUSA
24-07-2025 11:55h

A Associação de Apoios a Albinos de Moçambique (AlbiMoz) alertou para o contínuo rapto de pessoas com albinismo para “fins supersticiosos” e apelou ainda à disponibilização de óculos e protetores solares pelo Serviço Nacional de Saúde.

“Temos a questão que tem a ver com o rapto das pessoas com albinismo para fins supersticiosos e muitas das vezes essa questão é facultada pela habitação que as pessoas têm. Os locais de habitação que as pessoas com albinismo têm no meio rural não oferecem alguma segurança”, disse o delegado Regional Centro e Norte da AlbiMoz, Cristiano Carlos Cumbane, depois do encontro, em Maputo, com o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, na quarta-feira.

A associação indicou ao chefe de Estado que a falta de habitação condigna facilita os raptos de pessoas com albinismo, que posteriormente são esquartejadas e retirados os órgãos genitais, usados para “fins obscuros”.

“O Presidente da República, mais do que ninguém, acolheu esta sensibilidade e, de uma forma tão especial, disse-nos que estamos juntos, pese embora haja esta limitação dos recursos financeiros para apoiar, mas mostrou-se cada vez mais disponível para nos ajudar naquilo que são os nossos projetos prioritários”, disse Cumbane.

Para travar estes atos, a associação vai avançar com a iniciativa “Albinismo com Dignidade” que visa mapear zonas de ocorrência deste fenómeno e com o projeto “Casa Segura”, que visa a construção de 100 habitações seguras e condignas para pessoas albinas, estando a associação na busca de parceiros.

A AlbiMoz pediu ao chefe do Estado para assegurar a disponibilização de óculos e protetores solares no Serviço Nacional de Saúde para melhorar a vida da pessoa com albinismo.

“Temos a questão que tem a ver com a disponibilização dos acessórios de proteção, que incluem os óculos de vista e os protetores solares que não estão disponíveis no Sistema Nacional de Saúde”, disse o delegado Regional Centro e Norte da AlbiMoz, Cristiano Carlos Cumbane, pedindo intervenção do Presidente moçambicano.

A associação AlbiMoz alertou para a fraca cobertura dos cuidados de saúde à pessoa com albinismo, sobretudo nas zonas rurais, pedindo, por isso, a disponibilização de dermatologistas nos centros de saúde.

“O grosso de pessoas com albinismo não reside na cidade, estão no meio rural. Lá onde não temos a especialização de dermatologista, não temos hospitais de referência que possam oferecer cuidados especiais a esta camada social”, alertou o membro da associação.

Em 09 de junho, o Governo moçambicano admitiu que pessoas com albinismo continuam a enfrentar “estigmas profundos” no país, incluindo mutilação, discriminação e exclusão social, prometendo ajustar a legislação para proteger este grupo.

O albinismo é uma condição de ausência de melanina na pele, nos olhos, nos pelos e nos cabelos, componente responsável pela pigmentação e proteção da radiação solar.

As pessoas com albinismo têm sido vítimas de perseguições, violência e discriminação devido a mitos e superstições, que incluem o uso de órgãos ou ossadas em rituais, sendo colocadas entre os principais alvos de violações de direitos humanos.

A profanação de sepulturas é também uma realidade, para se saquearem as ossadas de albinos enterrados.

Os curandeiros africanos podem chegar a pagar mais de 70 mil euros por cada órgão de uma pessoa albina.

Dados divulgados anteriormente pela Lusa indicam que desde 2014, só em Moçambique, pelo menos 114 pessoas com albinismo desapareceram em circunstâncias não esclarecidas, até 2023, segundo as estatísticas da comissão nacional dos Direitos Humanos (CNDH).

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