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Conflitos e mudanças climáticas reduzem taxa de vacinação de menores em Moçambique

LUSA
23-07-2025 19:27h

Moçambique admitiu hoje haver redução da taxa de vacinação de crianças até cinco anos no país face aos conflitos e mudanças climáticas, apontando a falta de vacinação completa como causa de morte de menores.

“O último inquérito demográfico de saúde 2023-2024 mostrou que, infelizmente, houve uma redução na taxa da vacinação comparando aos anos antes da covid-19, principalmente nas áreas rurais onde os desafios são maiores devido à disponibilidade” dos fármacos com a redução de financiamentos, disse a diretora de Divisão de Inquéritos e Observação de Saúde do Instituto Nacional de Saúde (INS) de Moçambique, Ivalda Macicame.

Admitindo dificuldades para a vacinação, a responsável pediu uma maior atenção às "populações mais vulneráveis" e em "áreas de conflitos", durante o Fórum Global de Inovação e Ação para Imunização e Sobrevivência Infantil – 2025, que decorre desde terça-feira, em Maputo, e que termina na quinta-feira.

“A questão das mudanças climáticas também se tem tornado um grande desafio para o alcance das crianças”, disse Ivalda Macicame.

A diretora de Divisão de Inquéritos e Observação de Saúde do INS avançou também que Moçambique quer, até 2030, reduzir de 60 para 25 a mortalidade de menores de cinco anos em cada mil nados vivos, baixar de 24 para 12 mortes neonatais em mil nascidos e eliminar a mortalidade infantil (até um ano), que atualmente regista 39 casos em mil nados vivos.

As doenças infecciosas, “cuja maioria tem vacinas disponíveis”, continuam no topo das causas de morte de menores de cinco anos em todo o mundo.

“Mas quando olhamos para o continente africano, nem todas as crianças têm acesso a vacinação e observamos que dados da vigilância mostram que, das crianças menores de cinco anos em Moçambique que morreram, três em cada quatro não receberam a vacinação completa”, disse Ivalda Macicame, acrescentando que o levantamento feito entre 2019-2020 indica que apenas 23% de crianças menores de cinco anos completaram a vacinação.

Para travar as mortes em Moçambique, Ivalda Macicame pediu que o Governo disponibilize fundos para aquisição de vacinas, incluindo as novas que poderão começar a circular em dois anos na luta contra doenças consideradas evitáveis.

“Tendo em conta o contexto internacional, uma das grandes prioridades é a imunização, onde Moçambique já tem muitas estratégias, temos o programa alargado nacional de vacinação, mas reconhecemos que há melhorias a serem feitas, temos que alcançar mais crianças, temos que garantir que as crianças sejam vacinadas por completo e temos que introduzir novas vacinas”, disse a responsável do INS.

Mais de 300 delegados de 29 países, incluindo ministros e vice-ministros da saúde, cientistas e académicos e organizações da sociedade civil, participam no fórum em Maputo.

O encontro é organizado pelos Ministérios de Saúde de Moçambique e da Serra Leoa e pelo Governo da Espanha com a colaboração das fundações “la Caixa” e Bill and Melinda Gates e da Unicef.

Segundo o diretor-geral do INS, Eduardo Samo Gudo, o fórum discute soluções científicas para que o mundo se possa reposicionar na aceleração do combate à mortalidade infantil, incluindo a exigência de um novo compromisso político nesta causa.

Samo Gudo assinalou uma “redução histórica e sem precedentes” da mortalidade infantil nas últimas décadas no mundo, destacando que, entre 1990 e 2023, o número de mortes de crianças menores de 5 anos baixou de cerca de 12,8 milhões por ano para 4,8 milhões.

Não obstante esses avanços, organizações de saúde mundiais registaram um abrandamento, desde 2015, do ritmo de redução da mortalidade na faixa etária em referência, assinalando o risco de pelo menos 60 países africanos não alcançarem a meta dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), conforme estimativas da Organização Mundial da Saúde avançadas pelo mesmo responsável.

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