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Agência de saúde da União Africana alerta para aumento da malária no sul de África

LUSA
23-07-2025 10:42h

A agência de saúde da União Africana (UA) alertou hoje para o aumento de casos de malária no sul de África, impulsionado pelas alterações climáticas, com vários países, incluindo Botsuana, Eswatini, Namíbia e Zimbábue a reportarem novos surtos.

"Este aumento não é uma coincidência. As chuvas prolongadas favoreceram a reprodução de mosquitos, enquanto atividades como a extração de ouro, a pesca e a mineração artesanal estão a expor mais pessoas ao risco, especialmente durante as horas de pico de atividade dos mosquitos", explicou Memory Mapfumo, epidemiologista dos Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças de África (CDC de África), em comunicado.

O Zimbábue, o país mais afetado, tem registado um "aumento drástico": desde janeiro, registou 111.998 casos e 310 mortes, em comparação com os 29.031 casos e 49 mortes no mesmo período de 2024.

Nestes países, a situação é agravada pelo baixo uso de mosquiteiros tratados com inseticida, o que expõe as comunidades e aumenta a pressão sobre "sistemas de saúde já sobrecarregados". A isso soma-se a interconectividade regional, que facilita a propagação transfronteiriça do vírus e complica a sua erradicação.

"Este cenário reflete um desafio mais amplo no sul do continente, onde as alterações climáticas e a expansão de modos de vida vulneráveis impulsionam uma ameaça crescente de malária, o que exige respostas mais rápidas, focadas e sustentadas", acrescentou a agência de saúde da UA.

A malária é endémica na África subsaariana, sobretudo em zonas com altas temperaturas e precipitações, condições ideais para a proliferação do mosquito Anopheles, transmissor do parasita. A região central do continente - ao norte e ao sul do equador - apresenta a maior incidência, onde influenciam o clima tropical, os deslocamentos populacionais e as dificuldades de acesso a medidas preventivas.

Embora o sul da África esteja comparativamente menos afetado, continua a ser altamente vulnerável devido às condições climáticas, aos movimentos transfronteiriços de população e a surtos localizados em áreas de alto risco.

A agência de saúde da UA recordou que os casos de malária em todo o mundo atingiram os 263 milhões em 2023 - em comparação com os 252 milhões do ano anterior - e que África concentrou cerca de 94% das infeções e 95% das mortes.

Perante esta situação, os CDC de África instaram os governos a reforçar o uso de mosquiteiros tratados com inseticida, promover a implicação comunitária e abordar os fatores ambientais e sociais que impulsionam os surtos, como a agricultura ilegal ou a exposição a criadouros de mosquitos.

Por último, sublinharam a necessidade de melhorar os sistemas de vigilância e garantir a recolha atempada e precisa de dados que sirvam de base para as intervenções de saúde pública.

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