SAÚDE QUE SE VÊ

Explicações sem caneta e por videoconferência porque “não vai acabar o mundo”

LUSA
17-03-2020 14:28h

O mais difícil é conter o habitual escrevinhar nos cadernos dos alunos, mas as rotinas ajustam-se porque “não vai acabar o mundo” e a explicadora Melissa Costa está desde segunda-feira em regime de tutoria por videochamada devido à Covid-19.

Aos 27 anos, a jovem do Porto é professora de Educação Física em suspenso, porque as escolas onde leciona interromperam a atividade, decidiu não comparecer no centro de dia de idosos “ainda aberto” para orientar a ginástica dos mais velhos, enviou aos seis explicandos trabalhos para fazerem em casa e mantém com dois deles explicações por videochamada.

“A minha dificuldade é que sou muito de escrever. Faço esquemas, escrevo muito nos cadernos, corrijo e agora não consigo. O ótimo era a explicação presencial, mas não podendo ser, o mundo não vai acabar, fazemos como podemos. Como educadora, a minha função também é tranquilizar os alunos”, descreveu à Lusa a explicadora privada Melissa Costa.

Entre segunda-feira e hoje, a jovem já deu três explicações por videochamada, a dois alunos, do 5.º e 6.º anos de escolaridade, tendo ficado com a certeza de que “pelo menos naquela hora, eles estão a trabalhar”.

“Em conversa com um dos encarregados de educação, enquanto explicava que ia enviar coisas para eles continuarem a trabalhar, surgiu a hipótese de mantermos a hora da explicação por videochamada. Há pais que querem continuar a ter aquela hora para os filhos estudarem”, justificou.

“A ideia nem partiu de mim, mas depois sugeri o mesmo a outra mãe”, acrescenta.

Para a docente, manter o contacto por videochamada faz toda a diferença se comparada com o envio de trabalho para casa.

“Pelo menos naquele momento [da videochamada], para tudo e ficam concentrados no estudo. Pode ser diferente do que era antes, mas sei que estão a trabalhar”, destaca.

Quanto aos meninos a quem apenas enviou trabalho, Melissa diz que “alguns colocaram dúvidas, mas o feedback não tem sido muito”.

“Acho que muitos pais ainda estão a trabalhar e não estão a controlar. E é muito difícil os miúdos disciplinarem-se”, relata.

Por outro lado, observa, alguns pais ainda não terão percebido que os estudantes “têm mesmo de trabalhar em casa”.

Quanto às crianças, a perceção de Melissa é que, sobretudo os rapazes, “se puderem, ficam dias inteiros agarrados aos videojogos”.

“E deviam estar a exercitar-se. Isto é uma paragem, não são férias. Na quinta e sexta-feira, toda a gente se despedia dos funcionários [da escola] a dizer ‘Boas Férias’”, refere.

Antes, enquanto deu aulas e manteve a atividade de explicadora num centro de estudo a funcionar numa escola do Porto, Melissa sentia “os miúdos em pânico”.

“Estavam sempre a pedir para medir a febre, a colocar gel desinfetante e a querer ver as notícias. Não estavam nada tranquilos”, recorda.

Agora, “estão em casa, sentem-se protegidos na sua bolha e sinto que já esqueceram o stress da semana passada”.

 Melissa descreve que apenas sai de casa para fazer as compras indispensáveis e que o treinador pessoal do ginásio que frequentava já pediu fotos e vídeos dos exercícios em casa.

“Já estou vestida para treinar. Tenho passadeira e bicicleta guardadas na arrecadação e já decidi que vou buscar. Não podemos parar”, desabafou, antes de se dedicar à outra atividade que mantêm, iniciando uma demonstração de robots de cozinha através das redes sociais.

O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou mais de 180 mil pessoas, das quais mais de 7.000 morreram.

Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 75 mil recuperaram da doença.

O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se por mais de 145 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, o número de infetados pelo novo coronavírus subiu para 448, mais 117 do que os contabilizados na segunda-feira, anunciou hoje a Direção-Geral da Saúde (DGS).

De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica em Portugal, divulgado hoje às 12:00, há 4.030 casos suspeitos (mais 1.122), dos quais 323 (eram 374) aguardam resultado laboratorial.

Segundo a DGS, há três casos recuperados.

MAIS NOTÍCIAS