A Amnistia Internacional (AI) pediu hoje às autoridades etíopes que negoceiem com os profissionais de saúde em greve e que libertem os que foram detidos, para que termine "o assédio e intimidação" para com os trabalhadores.
"Sem uma resolução à vista, a greve entrou na sua segunda semana, provocando uma perturbação massiva na prestação de cuidados de saúde tão necessários em todo o país", contextualizou o diretor regional da AI para a África Oriental e Austral, Tigere Chagutah, citado em comunicado.
Na sua opinião, o Governo não deve prolongar ainda mais esta crise, "que restringiu gravemente o direito dos pacientes ao acesso à saúde".
Em vez disso, salientou, o executivo e os profissionais de saúde devem "envolver-se de forma coletiva e construtiva em negociações para resolver este impasse".
"Não é momento para demonstrações de força ou repressões autoritárias. As autoridades devem sentar-se urgentemente à mesa das negociações com o objetivo de resolver as questões pendentes e permitir a retoma dos serviços de saúde", aconselhou Chagutah.
Em 22 de maio, um movimento 'online' de profissionais de saúde enviou à AI uma lista com 212 profissionais detidos em todo o país desde o início da greve, em 12 de maio.
Familiares e advogados entrevistados afirmaram que as pessoas foram detidas sem serem informadas dos motivos.
A polícia também revistou as suas casas sem apresentar mandado de busca, alegando estar à procura de "armas e explosivos", referiu a Organização Não-Governamental (ONG).
De acordo com os relatos obtidos pela AI, durante essas buscas apenas dispositivos eletrónicos foram apreendidos.
Segundo Chagutah, "deter arbitrariamente quem discorda das autoridades tornou-se prática comum na Etiópia e, neste caso, está a ser usada contra profissionais de saúde que lutam por melhores salários e condições".
Assim, a ONG apela ao Governo etíope que "cesse a repressão contra trabalhadores da saúde que exercem legalmente o seu direito à reunião pacífica e para que liberte todas as pessoas detidas arbitrariamente por se manifestarem pelos seus direitos".
"As autoridades devem também pôr fim a todas as formas de repressão à dissidência, incluindo o assédio a defensores de direitos humanos e jornalistas", reiterou.
Os profissionais de saúde na Etiópia têm estado em negociações há mais de cinco anos, exigindo salários justos, melhores condições de trabalho e maior apoio institucional, contextualizou.
Os médicos especialistas ganham, em média, apenas 80 dólares por mês (cerca de 71 euros), com os clínicos gerais, enfermeiros e outros profissionais de saúde a receberem ainda menos, lamentou.