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Administradores hospitalares pedem reestruturação da rede social de apoio para casos sociais

LUSA
13-05-2025 14:01h

Os administradores hospitalares alertaram hoje que a rede de apoio social “é absolutamente insuficiente” para responder ao crescente número de pessoas que recorrem às urgências em busca de abrigo e comida, defendendo a sua reestruturação e capacitação.

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, manifestou preocupação com esta realidade relatada por vários hospitais da Grande Lisboa à agência Lusa.

Apesar de não ter um retrato nacional da situação, Xavier Barreto afirmou saber que se trata de “uma realidade em muitos hospitais”, que gera muita preocupação, tal como os internamentos sociais.

“É o mesmo princípio. Os hospitais existem para tratar doentes, não existem, obviamente, para acudir a situações sociais, por muito importantes e relevantes que elas sejam, como é o caso”, salientou à Lusa.

Xavier Barreto lamentou que haja “portugueses numa situação de carência tal que os leva a procurar um hospital para acudir a uma necessidade básica, como alimentar-se ou ter um abrigo”, mas, vincou, “temos de nos preocupar também com o funcionamento dos hospitais”.

“Os hospitais estão a ocupar os seus recursos, os seus espaços, os seus profissionais, para acudir a situações sociais”, o que dificulta depois a resposta “a doentes urgentes que entram pela urgência e que têm de ser tratados com maior agilidade, maior rapidez”.

Nesse sentido, defendeu ser “muito importante que o Estado encontre soluções estruturadas para estas pessoas”, reconhecendo, contudo, ser muito difícil uniformizar as respostas “num único tipo de pessoa”, dada a diversidade das situações.

Há pessoas que vivem sozinhas, que se sentem abandonadas, com problemas de solidão, alguns com problemas de saúde mental, que procuram “um serviço de urgência para estar com alguém”.

Mas também há casos de pessoas que não têm rendimentos para se alimentar e procuram uma refeição. Outras que vivem na rua ou que no inverno têm frio e procuram abrigo no hospital

“Há de tudo e todas estas situações merecem respostas diferentes e têm de ser sinalizadas pelos hospitais à rede de apoio social”, que deve encontrar uma solução em articulação com a Segurança Social, associações, organizações não-governamentais que apoiam esta população e municípios.

Contudo, alertou que “a rede de apoio social é absolutamente insuficiente, neste momento, defendendo que “tem de ser estruturada, capacitada e apoiada para dar resposta a estas pessoas”.

Sugeriu, com base numa proposta ouvida num debate com assistentes sociais, a criação de um Serviço Nacional de Apoio Social, à semelhança do Serviço Nacional de Saúde.

“Poderíamos ter um serviço nacional de apoio social em que cada pessoa, ao contactar com o sistema, ficasse sinalizada em função das suas necessidades, problemas e dificuldades”, explicou.

Em função disso, cada comunidade articularia um conjunto de respostas para “fazer face à situação daquela pessoa em concreto”, disse.

Mas tem de ser uma resposta “estruturada e continuada”, implicando a articulação de “um conjunto de atores que nos últimos anos têm andado um bocadinho desarticulados” devido à falta de apoio e de recursos”.

Para Xavier Barreto, é preciso olhar para esta problemática de “outra forma”, porque se trata de “um problema crescente”.

“Há uma série de alterações demográficas e sociais que estão a concorrer para esta situação. E, portanto, nós não podemos fazer de conta que isto não está a acontecer”, vincou.

No seu entender, é preciso “pensar urgentemente em soluções”, considerando que seria “muito oportuno que isso fosse um tema de debate nesta campanha” para as eleições legislativas.

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