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Covid-19: Antigo Presidente timorense considera fecho das fronteiras contraproducente

LUSA
17-03-2020 08:43h

O antigo Presidente timorense José Ramos-Horta afirmou hoje ser contraproducente fechar as fronteiras e que o Governo devia garantir, por questões de segurança do país, a manutenção dos voos entre Díli e Singapura e Darwin.

"Fechar totalmente fronteiras é contraproducente", disse à Lusa Ramos-Horta, que adiantou ter já estado reunido com o primeiro-ministro timorense, Taur Matan Ruak, e com os partidos com assento parlamentar sobre a atual situação.

No encontro com o chefe do Governo timorense, Ramos-Horta defendeu que “por questões de segurança nacional” o executivo deve intervir para garantir que os voos de ligação a Darwin e Singapura se mantém, como “cordão umbilical de ligação ao mundo”.

"Os voos estão praticamente vazios na chegada e o operador está a perder. Mas estes voos são uma espécie de janela, o cordão umbilical de Timor-Leste ao mundo e essenciais para transporte de equipamento, medicamentos e bens essenciais”, afirmou.

Para o político, a medida devia ser tomada como "quase um tipo de requisição", considerando que não se deve "ver isto apenas como uma operação privada, porque o operador está a perder".

Ramos-Horta defendeu que "tem de ser visto como questão de segurança nacional e Timor deve pagar pelo custo de manutenção dessa linha", ocorrendo o mesmo com o voo de ligação a Darwin, no norte da Austrália.

O antigo chefe de Estado timorense mostrou-se igualmente contrário à opção de fecho das fronteiras terrestres com a Indonésia, na ilha de Timor, e insistiu que qualquer avaliação dessa medida deve ser feita com um "diálogo intenso e muita consulta bilateral".

“Não concordo com o encerramento de fronteiras com Timor Ocidental e partilho da visão do embaixador indonésio em Díli”, afirmou.

Na segunda-feira em declarações à Lusa, o embaixador da Indonésia na capital timorense defendeu que qualquer decisão de fecho por ter impactos negativos.

“Já disse que devem considerar cuidadosamente os possíveis impactos e riscos desta medida. Se decidirem fechar, deixamos de ter controlo na fronteira oficial, mas podemos ter muito mais gente a atravessar ilegalmente e isso é ainda pior”, disse Sahat Sitorus.

Sitorus acrescentou que o fornecimento de bens é essencial para o mercado em Timor-Leste, tal como garantir que os timorenses, os indonésios e os outros estrangeiros a viver no país continuam a ter produtos.

Para Ramos-Horta, é preciso “um reforço de controlo nas fronteiras”, não só com medições da temperatura e uma entrevista detalhada à chegada a Timor-Leste. E caso essas pessoas tenham estado em zonas de risco e mesmo que não apresentem febre, devem ficar em isolamento.

O Governo timorense aprovou na segunda-feira um pedido ao chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, a declaração do estado de emergência.

Ramos-Horta considerou que a ser declarado, o estado de emergência servirá “apenas para dar ao Governo a capacidade legal para se tiver que tomar algumas decisões”, como fecho de serviços ou outras.

“Mas qualquer decisão tem que ser bem refletida e avaliada com todas as implicações. Aconselha-se a máxima cautela, especialmente no que toca às fronteiras”, afirmou.

Timor-Leste não tem atualmente qualquer caso da Covid-19.

O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou cerca de 170 mil pessoas, das quais 6.850 morreram.

Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 75 mil recuperaram da doença.

O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se por mais de 140 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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