SAÚDE QUE SE VÊ

Doentes privados da voz natural integram Coro dos Laringectomizados em Coimbra

LUSA
16-04-2025 13:15h

Doentes privados, total ou parcialmente, da voz natural devido a tumores na laringe integram o Coro dos Laringectomizados da Unidade de Saúde Local (ULS) de Coimbra, iniciativa que acaba por ser uma extensão da sua reabilitação.

“O trabalho que fazemos é, de certa forma, começado na terapia da fala, sendo, no fundo, uma extensão desta reabilitação e da capacidade de projeção e de compreensão que os outros têm dos doentes”, disse hoje aos jornalistas o maestro Gustavo Godinho, no Dia Mundial da Voz.

Criado há três anos no Serviço de Otorrinolaringologia da ULS de Coimbra, pela mão do diretor Jorge Miguéis, o coro, composto por 15 a 20 elementos, integra também pessoas sem doenças da laringe e ensaia quinzenalmente, à exceção do mês de agosto, ou com maior periodicidade sempre que estejam programadas atuações.

“Os doentes estão extremamente motivados nos ensaios do coro, que é também uma reabilitação social. Os doentes chegam mais felizes e mais motivados para se encontrarem socialmente, que é um problema nesta doença, porque existe a tendência de se isolarem quando não conseguem falar”, sustentou Gustavo Godinho.

Para o diretor do Serviço de Otorrinolaringologia da ULS de Coimbra, que se inspirou em França durante a sua formação profissional em Bordéus, a criação do coro pretende mostrar “que, não se pode só falar sem voz, mas sobretudo que há vida para além do cancro”.

“A maior parte das doenças da laringe são benignas, cujos tratamentos não implicam amputação da voz, mas há situações de cancros da laringe em que, efetivamente, para darmos uma hipótese ao doente de sobreviver, obriga à realização de gestos terapêuticos que, muitas vezes, incluem uma operação que lhes tira permanentemente o órgão da função, que é a laringe”, salientou Jorge Miguéis.

Segundo o especialista, do ponto de vista teórico, qualquer laringectomizado total poderá readquirir uma voz diferente, que é um meio de comunicação vocal que pode verbalizar, com algumas limitações, as suas ideias e sentimentos.

De acordo com o diretor do Serviço de Otorrinolaringologia da ULS de Coimbra, anualmente registam-se mais de 1.000 novos casos de doenças malignas da laringe e faringe, que estão associadas.

Em Coimbra, e apesar das inovações terapêuticas, o número de laringectomizados atinge a meia centena, privados da sua voz natural, que são potenciais candidatos a participar no coro da ULS de Coimbra.

O médico Jorge Miguéis aconselha as pessoas a terem cuidados quotidianos com a voz, sobretudo a não fumarem, que é um dos maiores malefícios para a laringe, esforçarem a voz ou ingerirem bebidas frias.

“O coro ajuda-nos muito, mesmo a desenvolver e a melhorar a voz, e o convívio é tudo para nós estarmos mais livres e à vontade para podermos comunicar”, enfatizou Ernesto Grilo, de 64 anos, intervencionado a um cancro na laringe em 2015, que obrigou à retirada das cordas vocais.

O antigo empregado fabril, que teve de se aposentar, comunica através de uma voz esofágica e recordou que a sua vida mudou muito com a intervenção cirúrgica, numa fase em que já era muito difícil comunicar e respirar.

“A cirurgia ajudou-me a melhorar a minha vida, porque já não tinha condições de viver e hoje levo uma vida quase normal”, sublinhou Ernesto Grilo, da Marinha Grande.

MAIS NOTÍCIAS