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Covid-19: CT da CGD admite pedir encerramento do edifício-sede em Lisboa

LUSA
17-03-2020 00:37h

A Comissão de Trabalhadores (CT) da Caixa Geral de Depósitos (CGD) admite propor à administração o encerramento da sede do banco em Lisboa, onde há casos confirmados de Covid-19, áreas isoladas e trabalhadores em teletrabalho e quarentena.

Em declarações hoje à agência Lusa, a coordenadora da CT disse que tem vindo a receber “algumas denúncias de trabalhadores” da sede da CGD, localizada na avenida João XXI, em Lisboa, e que – segundo alguns testemunhos enviados também à agência Lusa – dizem sentir-se “largados e desinformados, sem meios convenientes de proteção”, que garantem ser “parcos e ineficientes”.

Garantindo que a CT está “a trabalhar” com a Comissão Executiva da Caixa, Isabel Rodrigues disse ter apenas conhecimento oficial de “dois casos de trabalhadores infetados, que estão em casa”, estando já “isoladas as áreas onde eles estavam” e “em quarentena em casa as pessoas que com eles estavam em contacto”.

Numa mensagem enviada hoje aos trabalhadores, a que a agência Lusa teve acesso, a Comissão Executiva confirma que, “durante o fim de semana, foram confirmados casos de colaboradores do grupo Caixa com teste positivo”, mas garante que, “seguindo as recomendações da autoridade de saúde e o plano de contingência da Caixa, foram adotados todos os procedimentos cautelares estabelecidos”.

“Foram já tomadas medidas logísticas inéditas ao nível do edifício sede”, sustenta a administração da Caixa, avançando que “estão encerradas algumas áreas” e, “esta semana, as áreas críticas para a continuidade de negócio do banco (operações, mercados financeiros, informática, ‘compliance’, etc.) vão estar a funcionar em várias localizações da zona da Grande Lisboa”.

Ainda assim, no entender da CT , “as medidas tomadas poderiam ir mais além”, pelo que na reunião que hoje foi pedida à administração esta estrutura representativa dos trabalhadores pretende pôr em cima da mesa a hipótese de encerramento do edifício sede e de redução da atividade da rede comercial (atualmente a trabalhar à porta fechada) apenas a “atendimento urgente e essencial”.

Reconhecendo que “não é possível todos os trabalhadores do edifício irem para casa em teletrabalho”, quer porque “isso não é comportável, quer pela infraestrutura do sistema”, quer porque “as funções que têm não se prestam a isso”, Isabel Rodrigues admite que este fator possa estar a travar a decisão de fechar o edifício.

“Vamos falar com a Comissão Executiva e ver qual é a abertura para que isto encerre ou quais são as medidas que tem propostas para os próximos dias”, acrescentou.

À Lusa, também o presidente Sindicato de Trabalhadores das Empresas do grupo Caixa Geral de Depósitos (STEC) disse vir recebendo “queixas” de trabalhadores, mas salientou as “garantias” dadas pela administração de que “estão a ser tomadas todas as medidas adequadas”.

“Temos que ter algum sangue-frio e bom senso. Estamos todos ansiosos e fragilizados com esta situação anómala, para a qual ninguém estava preparado, e é verdade que o edifício sede alberga cerca de metade (3.500) dos trabalhadores da Caixa e, portanto, é um foco potencial de difusão da Covid-19. Mas também não queremos acreditar que não estão a ser tomadas as medidas adequadas”, sustentou Pedro Messias.

Embora admitindo que “fechar todo o edifício é uma situação que a Comissão Executiva pode vir a ter de ponderar”, o dirigente sindical afirmou que “alguns departamentos já estão a funcionar em edifícios exteriores ao principal, mas há outras situações em que isso não é possível”.

“O sindicato tem conhecimento que nas situações em que é possível o teletrabalho estão a ser tomadas as medidas adequadas para que isso possa acontecer, assim como medidas restritivas de acesso ao edifício sede, serviços de atendimento que deixaram de funcionar para evitar a propagação e precauções tomadas nos andares onde foram detetados casos positivos”, salientou.

Na ‘e-mail’ enviado hoje aos funcionários, a administração da Caixa garante estar “a proteger os colaboradores, dotando-os de condições de trabalho que procuram minimizar a possibilidade de ficarem expostos ao vírus”, além de “reforçar a limpeza dos postos de trabalho e a tomar diversas medidas de contenção”.

A CGD diz estar ainda “a procurar minimizar a deslocação de clientes às agências e a incentivar a utilização de canais alternativos por parte dos clientes, através da ‘App’ [aplicação] e da colocação adicional de cartões de débito e crédito”, sustentando que “serão encerradas as agências quando e apenas se necessário, como já aconteceu em casos pontuais”.

“A Caixa vai também anunciar medidas mitigadoras do impacto para as famílias e empresas”, lê-se na mensagem, segundo a qual serão avançados “alguns novos benefícios e períodos de carência para pagamento de prestações de crédito para certos setores a pedido dos clientes”, assim como revistos “circuitos de formalização de um cartão de débito, eliminando ineficiências e evitando que o cliente vá, fisicamente, à agência”.

“Estamos numa fase em que mais clara se torna a importância do serviço público bancário”, acrescenta a Comissão Executiva.

O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou cerca de 170 mil pessoas, das quais 6.500 morreram.

Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 75 mil recuperaram da doença.

Portugal registou hoje a primeira morte, anunciou a ministra da Saúde, Marta Temido.

Há 331 pessoas infetadas até hoje, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS).

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