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UNITA acusa autoridades angolanas de descontrolo no combate ao surto de cólera

LUSA
21-03-2025 12:59h

O grupo parlamentar da UNITA acusou hoje as autoridades angolanas de descontrolo no combate ao surto de cólera, durante um debate no parlamento, de iniciativa do maior partido da oposição.

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido do poder, contrariou a posição do grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), através da deputada do grupo parlamentar, Maria da Conceição Palma, garantindo que o surto de cólera está controlado.

No último boletim epidemiológico referente a 20 de março avança-se que o surto de cólera somou, desde janeiro deste ano, altura em que foi declarado o surto, um total de 313 mortes e 8.141 casos, afetando 14 das 21 províncias do país.

Nas últimas 24 horas, o país registou 191 novos casos e mais 15 óbitos, nomeadamente seis no Cuanza Norte, Luanda (06), Icolo e Bengo (02) e Bengo (01).

O grupo parlamentar da UNITA considera elevado o número de óbitos e questiona os dados estatísticos de monitorização da doença, que mostram “sinais de descontrolo”.

Na sua intervenção, a deputada Maria da Conceição Palma referiu que têm sido recorrentes os surtos de cólera em Angola, desde os anos 70, “mas a grande diferença entre os surtos anteriores e o atual é a melhoria significativa dos indicadores de mortalidade, de morbilidade, face à resposta rápida e oportuna” do executivo.

“Podemos dizer que a situação está controlada sim, não só pela perceção que a população tem, mas também pelos números, os dados e os indicadores”, disse a deputada do grupo parlamentar maioritário.

Para Maria da Conceição Palma, fatores como a falta de saneamento básico e de acesso à água de qualidade e em quantidade impulsionam o surgimento do surto de cólera, com a mobilidade populacional transfronteiriça a facilitar a propagação dos casos de cólera entre os diversos países, para além do impacto do fenómeno das alterações climáticas, sobretudo na época das chuvas.

Por sua vez, o deputado do grupo parlamentar da UNITA, Maurílio Luiele, disse que é preocupante “a dificuldade evidente de controlo” do surto, passados quase três meses do seu início, com o registo em média de 110 casos por dia e cerca de cinco óbitos diários, com uma taxa de mortalidade de 4,5%, “considerada muito elevada" face "aos padrões da doença”.

“O que sugere que as medidas adotadas carecem no essencial do sentido preventivo e são fundamentalmente reativas”, expressou.

De acordo com o deputado, as medidas adotadas carecem de eficácia, o que “reclama uma revisão urgente da estratégia”.

“O número elevado de óbitos extra-hospitalares é outro indicador importante de que o sistema não foi ainda suficientemente afinado”, afirmou.

Maurílio Luiele considerou que os números atuais fazem desta epidemia da cólera a “pior de sempre, superada talvez, a apenas, pelo surto verificado em 1987, que naquela altura apanhou as autoridades sanitárias completamente desprevenidas”.

 “De lá para cá ocorreram vários surtos que conferiram ao país experiência bastante para abordar de forma consistente esta situação. O descontrolo que se verifica na abordagem da doença sugere que esta experiência não está a ser devidamente aproveitada e quem paga com isto é a população afetada”, vincou, apelando à vacinação maciça da população em risco.

No relatório que sustentou o debate defende-se que é preciso reforçar a vigilância ambiental, o saneamento do meio, a educação para a saúde, e a assistência médica e medicamentosa em geral.

“É preciso evitar que a persistência da epidemia de cólera perturbe as atividades económicas no país, incluindo, por exemplo, uma redução do afluxo de turistas”, destaca-se no documento.

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