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Médio Oriente: Organização acusa Israel de cometer crimes de guerra em hospitais de Gaza

LUSA
20-03-2025 13:38h

A organização Human Rights Watch (HRW) acusou hoje as forças militares israelitas de causarem morte e sofrimento desnecessários aos doentes palestinianos durante a ocupação dos hospitais na Faixa de Gaza, o que “equivale a crimes de guerra”.

No mais recente relatório da HRW, testemunhas de três hospitais da Faixa de Gaza afirmaram que os militares israelitas negaram eletricidade, água, alimentos e medicamentos aos doentes, dispararam sobre civis, maltrataram profissionais de saúde e “destruíram deliberadamente” instalações e equipamentos médicos.

A organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos entrevistou nove doentes e dois profissionais de saúde que estavam presentes quando o Exército israelita invadiu e ocupou, entre 2023 e 2024, os hospitais Al-Shifa (na cidade de Gaza), Kamal Adwan (em Beit Lahia) e Nasser (em Khan Yunis).

Nestes estabelecimentos de saúde, onde pelo menos 84 doentes morreram por falta de cuidados médicos – sem contar os que foram mortos por bombardeamentos ou disparos de armas de fogo - as forças militares israelitas “interferiram gravemente” no tratamento de feridos e doentes, afirmou a ONG.

Os profissionais de saúde entrevistados relataram que o Exército se recusou a fornecer medicamentos e outras provisões aos doentes e bloqueou o acesso aos hospitais e às ambulâncias, o que resultou na morte de feridos e doentes crónicos, incluindo crianças submetidas a tratamentos de hemodiálise.

Para a HRW, esta privação de alimentos, água e outros bens essenciais imposta pelas autoridades israelitas constitui “um crime contra a humanidade de extermínio e atos de genocídio”.

Uma das fontes citadas pela organização, Ansam al-Sharif, hospitalizada depois de perder uma perna num ataque aéreo israelita e que precisava de muletas para andar, relatou que ela e os outros doentes do Hospital Nasser passaram quatro dias sem comida, água e medicamentos.

“A ocupação militar israelita dos hospitais de Gaza transformou locais de tratamento e recuperação em centros de morte e maus-tratos. Os responsáveis por estes horríveis abusos, incluindo os comandantes de topo, têm de ser responsabilizados” judicialmente, defendeu o diretor-adjunto da HRW para os Direitos das Crianças, Bill Van Esveld.

A HRW questionou também as evacuações forçadas de hospitais ordenadas pelas forças israelitas, que colocaram tanto os doentes como os profissionais de saúde em “grave perigo”, uma vez que se viram obrigados a deslocá-los sem assistência, mesmo que estivessem em macas ou em cadeiras de rodas.

A ONG denunciou igualmente que os militares incendiaram ou destruíram ilegalmente alguns edifícios destas instalações hospitalares após as evacuações.

Segundo os administradores do hospital Al-Shifa citados pela HRW, só entre 11 e 17 de novembro, morreram 40 doentes, em grande parte devido a cortes de eletricidade.

Tudo isto sem que as autoridades israelitas tenham anunciado uma investigação sobre alegadas violações graves do direito internacional humanitário nos hospitais de Gaza – entre as quais se incluem “aparentes crimes de guerra” - cometidas pelo Exército de Israel.

A HRW lembrou que o direito humanitário internacional estabelece que as partes num conflito devem respeitar e proteger os hospitais e tomar todas as precauções possíveis para minimizar os danos causados aos doentes, aos profissionais de saúde e às instalações.

O relatório da HRW surge poucos dias depois de Israel ter quebrado um cessar-fogo com o movimento islamita palestiniano Hamas, na Faixa de Gaza, na terça-feira, com bombardeamentos que mataram mais de 400 palestinianos.

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