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Parceria da Nova com Fiocruz em novo centro de inovação em Cascais olha para a África lusófona

LUSA
14-03-2025 09:10h

A criação do Centro de Inovação em Saúde Global em Cascais permitirá, no futuro, produzir vacinas e medicamentos, mas a parceria da Universidade Nova com a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) olha também para os países africanos de língua portuguesa.

“A Fiocruz pretende, depois, no futuro, poder também produzir vacinas em Portugal e temos também uma fábrica que está interessada em produzir medicamentos no C3”, o espaço em Alcabideche que vai ser cedido pelo município de Cascais para ser criado o Centro de Inovação em Saúde, disse à Lusa a diretora da Nova Medical School, Helena Canhão.

A professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa explicou que a preparação do C3 com certificações para fabricar vacinas e medicamentos envolve “um investimento de cerca de 1 milhão e 600 mil [euros]”, em colaboração com “interessados em produzir também medicamentos”.

“Mas isso é algo que será, depois, numa fase posterior, porque nós, neste momento, já temos tudo preparado para escritórios, para investigação e, portanto, do nosso lado da faculdade, precisamos de investir em recursos humanos”, que “vão para lá trabalhar, porque já temos os equipamentos” para começar, referiu a catedrática.

Para já, a Câmara de Cascais aprovou, por unanimidade, submeter à Assembleia Municipal a cedência do direito de superfície de um imóvel na freguesia de Alcabideche à Universidade Nova de Lisboa, com base no acordo de parceria internacional com a Fiocruz e o Instituto de Biotecnologia Molecular do Paraná, assinado em fevereiro em Brasília.

O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras (PSD), considerou que o novo centro de investigação resultará na "atração de investimento" estrangeiro em Portugal e na criação de “postos de trabalho" qualificados.

O novo Centro de inovação em Saúde Global Nova Fiocruz visa “promover soluções inovadoras para os desafios da saúde global, melhorar o intercâmbio de conhecimento e a colaboração em equidade na saúde e fomentar a pesquisa e a educação”.

Além do intercâmbio entre as instituições brasileiras e portuguesas, a Nova Medical School possui já “um acordo com a Universidade de Cabo Verde, com intercâmbio de investigadores”, mas o trabalho com a Fiocruz também envolve “mais especificamente” Angola e Moçambique, embora Helena Canhão pretenda também alargar a colaboração a outros países africanos de língua portuguesa como São Tomé e Príncipe.

Para a diretora da Nova Medical School, a Fiocruz “é uma fundação pública importante brasileira que trabalha em conjunto com o Ministério da Saúde para desenvolvimento de novos conhecimentos, de produtos e de apoio à saúde da população”, com “muita intervenção nas favelas, produz vacinas e faz um trabalho de saúde pública muito importante”.

Nesse sentido, perante o “interesse também da Fiocruz de migrar para a Europa, nomeadamente através de Portugal, e para ter um impacto também com várias populações mais desfavorecidas, quer através de Portugal, quer também com os países de expressão portuguesa”, o Centro de Inovação em Saúde Global prevê “uma cátedra de UNESCO para melhorar a literacia das populações nesta área da saúde”.

“Mas também para desenvolver investigação e inovação para melhor preparação de pandemias, de novas doenças que estão a surgir por causa das alterações climáticas, de fazer estudos sobre sustentabilidade na área da saúde, que são importantíssimos, e é uma área que ainda não está muito explorada”, destacou Helena Canhão.

O novo centro contará também com parcerias europeias, como a Universidade de Hamburgo.

“Temos agora um projeto que está a começar com Dinamarca, Polónia, Áustria e a Holanda [Países Baixos] para monitorização de pessoas que tiveram, por exemplo, cirurgias de alto risco e que precisam de ter uma monitorização apertada em casa após a alta”, avançou a responsável.

O objetivo da instituição passa por desenvolver produtos para as doenças crónicas, mas também “as novas doenças” que estão a surgir “por causa das alterações climáticas, condições mais precárias e de dificuldades e de pobreza” das populações mais desfavorecidas.

A catedrática considerou que “Portugal é um país atrativo para a investigação e para a inovação” e que a Nova Medical School quer “ser uma faculdade aberta”, porque “as pessoas olhavam para a academia como um sítio muito fechado”, com pouco interesse prático, quando também pode “produzir conhecimento, mas que seja útil à sociedade e não para estar fechada numa torre de marfim”.

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