O presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, António Vitorino, atribuiu hoje à "resistência corporativa" o facto de médicos e outros profissionais qualificados estrangeiros trabalharem em Portugal na colheita da azeitona e outras atividades de baixa qualificação.
O antigo comissário europeu falava numa conferência sobre "Pessoas e Propósito" que hoje decorreu no Centro Cultural de Cascais, durante a qual foram debatidas, entre outros temas, as migrações e o mercado de trabalho.
Partindo do exemplo de um médico do Bangladesh a trabalhar em Portugal na colheita da azeitona, António Vitorino recordou um programa com a participação da Fundação Calouste Gulbenkian que, "há 20 anos", permitiu que cerca de cem médicos estrangeiros que à data trabalhavam em Portugal na agricultura, na construção civil e nas limpezas passassem, mediante formação específica e com a cooperação da Ordem dos Médicos, a exercer em território nacional a sua profissão original.
"Foi possível, porque a Gulbenkian estava lá. Se tivesse estado lá, a resistência corporativa teria existido. Por que é que não fazemos isso outra vez?", questionou, frisando que tal se aplica a outras profissões e apelando a que se faça a uma "triagem das qualificações dos imigrantes" que moram em Portugal.
O presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo defendeu ainda que o país tem de ir à procura dos imigrantes de que necessita para o mercado laboral.
"Nós temos de nos preocupar em ir procurar os imigrantes de que precisamos e não ficar à espera que venham para cá", defendeu, lembrando que a o mercado nacional necessita quer "de Einsteins" quer de pessoas com baixas e médias qualificações.
"A apanha dos frutos vermelhos continuará a ser feita por imigrantes", sublinhou o antigo deputado socialista, que, tal como em ocasiões anteriores, insistiu que a imigração tem de ser "regulada, ordenada e segura".
Questionado sobre como programar as necessidades de imigração e em simultâneo garantir que esta não sobrecarrega os serviços públicos e o mercado da habitação, António Vitorino reconheceu que "não há uma fórmula mágica" e que os modelos de previsão atuais "são falíveis".
"É importante [que haja] uma política integrada", concluiu.