O cancelamento de consultas médicas presenciais e a falta de produtos alimentares devido à pandemia de Covid-19 está a alarmar muitos portugueses no centro de Inglaterra, afirmou hoje a diretora da organização PT Connections, Conceição Bruno
“Há pessoas em pânico com o escassear de bens essenciais. E as pessoas com problemas de saúde queixam-se de os médicos de família estarem a cancelar as consultas [presenciais]. Têm pouca informação sobre como funciona o vírus, se devem usar máscaras”, contou hoje à agência Lusa.
Muitas destas pessoas, explicou, não dominam a língua inglesa, por isso pedem-lhe para ler as mensagens SMS enviadas pelos centros de saúde, que estão a fazer consultas por telefone.
“Vêm aqui ao meu café para os ajudar. E estão preocupados com o isolamento social, porque muitos deles não falam nada de inglês”, explicou Bruno, que fundou a organização em Grantham, perto de Birmingham, para ajudar a comunidade portuguesa.
No País de Gales, a fundadora da organização Comunidade de Língua Portuguesa de Wrexham (CPLW), Iolanda Banu Viegas, também encontra os portugueses da cidade do País de Gales “muito preocupados” porque, além do cancelamento das consultas médicas e falta de bens, como papel higiénico e paracetamol, as escolas e lojas ainda estão abertas, ao contrário do que acontece em Portugal.
"É preocupante mas, embora estejamos a fazer os possíveis para não entrar em pânico, fica difícil pois passa nas notícias constantemente”, afirmou esta Conselheira das Comunidades Portuguesas.
Muitos portugueses estão a optar por não viajar, mas são poucos os que têm optado pelo auto-isolamento ou recorrer aos serviços por terem desenvolvido sintomas, disse.
Na Escócia, os portugueses também comentaram a compra em pânico de alguns produtos que está a deixar as prateleiras dos supermercados vazias e a passagem ao trabalho remoto, disse o Conselheiro das Comunidades na Escócia, Sérgio Tavares.
Por outro lado, também mostraram “muita ansiedade perante a discrepância entre os planos, ou falta deles, saídos de Londres e o resto da Europa, não só Portugal".
O governo autónomo escocês decretou, à revelia do governo britânico, a proibição de eventos públicos com mais de 500 pessoas a partir de hoje, e Tavares adiantou rumores de que esta semana vão ser anunciadas mais medidas, específicas da Escócia.
Alguns compatriotas têm mostrado, por isso, confiança na comunicação do Governo Escocês, mas a preocupação é geral, admite.
"Algumas [pessoas] até perguntam se eu acho mais seguro estar cá ou em Portugal!”, confessou.
Das quatro regiões britânicas, apenas a Irlanda do Norte ainda não registou mortes, tendo Inglaterra registado 34 óbitos causados pelo Covid-19, Escócia um e o País de Gales um.
Até agora foram diagnosticados 1.543 casos positivos entre 44.105 pessoas testadas ao coronavírus Covid-19 no Reino Unido, mais 171 infetados do que no domingo, de acordo com o balanço feito hoje pelo ministério da Saúde britânico.
Estimam-se que residam no Reino Unido cerca de 400 mil portugueses.