A Associação Pediátrica Oncológica (APO) considerou hoje que o anúncio do Hospital Universitário de São João (CHUSJ), Porto, de que o internamento em contentores acabou, seria “excelente” se incluísse dados sobre o arranque da obra da ala pediátrica.
"Se terminarem os contentores, é uma boa notícia. Sempre que se termina uma coisa que é má, ou péssima, ou miserável, é sempre uma boa notícia. Mas temos de ser muito vigilantes e ativos. A excelente notícia era: as crianças vão para o edifício central e a obra vai arrancar”, disse, à agência Lusa, o presidente da associação, Jorge Pires.
O CHUSJ revelou esta sexta-feira, em comunicado, que o internamento de crianças em 36 contentores acabou e as estruturas, provisórias há cerca de 10 anos, vão ser desmontadas.
Num “edifício de alvenaria”, situado junto aos contentores e também exterior ao corpo principal do hospital, “ficam agora 24 camas” para internamento pediátrico, acrescenta a nota do hospital de ‘São João’.
No mesmo comunicado, os responsáveis do CHUSJ dizem esperar arrancar com a construção de uma nova ala pediátrica até ao final do ano e que no fim de maio transferiu dos contentores para o edifício principal as crianças com doença oncológica.
As crianças que estavam em enfermarias colocadas em contentores foram deslocadas para um internamento de 25 camas pediátricas situadas no edifício principal do CHUSJ, utilizando espaços que ficaram livres com a relocalização de outros serviços e onde irão manter-se até estar terminada a construção da ala pediátrica”, escreveu aquela unidade hospitalar em comunicado.
Mas, para Jorge Pires, a nota do CHUSJ “está confusa” e “só serve para baralhar a opinião pública e passar uma imagem positiva, que faz entender que o problema está resolvido”.
“Vão acabar com os contentores, mas continuamos na mesma distância ao hospital e a ter de circular de ambulância, porque quando as crianças precisam de um tratamento, de um exame, têm de ir ao edifício central. Não podemos esquecer que a construção da ala pediátrica é que é prioritária e necessária. E o hospital e o Governo estão, assim, a baralhar a opinião pública e passar uma imagem positiva que faz entender que o problema está resolvido e não está”, considerou Jorge Pires.
O responsável pela associação que representa pais de crianças com cancro internadas em contentores provisórios desde 2011 no hospital de São João vincou mesmo: “A construção podia ter começado com ajuste direto e não começou”.
O hospital contactou 14 empresas há cerca de um mês para começarem a obra, quando tinha hipótese de contactar uma ou duas. E essas 14 empresas não se manifestaram ainda e ninguém sabe quando se vão manifestar. Dessas 14 empresas, basta haver uma que levante uma dúvida ou suspeita e há mais atrasos no arranque da obra”, recordou Jorge Pires.
No final de maio, em declarações aos jornalistas, o presidente do Conselho de Administração, Fernando Araújo, garantiu que a construção da ala pediátrica deverá iniciar-se até ao final do ano.
“Tudo indica que durante este ano, e espero que de forma precoce, possamos iniciar a obra no terreno”, disse o também ex-secretário de Estado Adjunto e da Saúde.
Em face da urgência da construção desta empreitada, a Lei do Orçamento de Estado para 2019 autorizou o centro hospitalar a recorrer ao procedimento de ajuste direto na contratação.
A ala pediátrica, a funcionar em contentores há cerca de 10 anos, assenta na construção de um edifício funcional adaptado aos cuidados multidisciplinares de elevada diferenciação prestados a crianças e adolescentes com doença complexa na região Norte.