O diretor-geral do Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África), Jean Kaseya, disse hoje que os combates no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) potenciam o risco de uma nova pandemia.
Em declarações à imprensa, Jean Kaseya apelou aos líderes africanos e internacionais para que “ponham fim a esta guerra, que pode criar muitos problemas em termos de saúde pública”.
O novo clado 1b do vírus mpox (varíola dos macacos), registado em muitos países nos últimos meses, surgiu pela primeira vez na RDCongo, na província de Kivu Sul, em 2023.
A guerra opõe o movimento rebelde M23, que é apoiado pelo Ruanda, ao exército governamental e os rebeldes estão a ganhar terreno no leste da RDCongo, onde se registaram numerosos surtos de doenças contagiosas.
O M23 tomou o controlo de uma grande parte de Goma, capital da província do Kivu Norte, no início da semana, e está a avançar para o Kivu Sul, tendo os seus líderes proclamado hoje ser sua intenção de continuar a avançar até Kinshasa.
Kaseya salientou que os combates sobrecarregaram os hospitais e “destruíram” as infraestruturas de saúde em Goma, que sofre cortes de eletricidade e de internet, bem como uma grave escassez de alimentos, água e medicamentos.
“O que está a acontecer em Goma pode levar a uma situação caótica que pode mesmo resultar numa grande pandemia”, alertou.
O diretor geral do CDC África acrescentou que há também 12 casos suspeitos de Ébola na RDCongo, enquanto o vizinho Uganda notificou um novo surto desta doença hemorrágica, destacando que estão a ser efetuados testes para determinar se existe também uma epidemia de Ébola na RDCongo.
Mais de 2 mil casos confirmados de Mpox foram registados em doze países africanos este ano, de acordo com o CDC África.
O Mpox é transmitido aos seres humanos por animais infetados, mas também pode ser passado de pessoa para pessoa através de contacto físico direto.
A infeção pelo vírus provoca febre, dores musculares e erupções cutâneas com bolhas.
Em Nova Iorque, a ONU anunciou que colocou 17 milhões de dólares (16,3 milhões de euros) ao dispor da comunidade humanitária que trabalha na resposta de emergência aos afetados pela violência e combates no leste da República Democrática do Congo.
O fluxo de feridos nas cidades de Goma e Bukavu, no leste do país, sobrecarrega a capacidade hospitalar.
A proteção civil democrático-congolesa confirmou pelo menos que 2.029 pessoas ficaram feridas, incluindo 45 em unidades sanitárias de saúde e 315 nas ruas.
Desde janeiro, mais de duas mil pessoas ficaram feridas por armas e estilhaços em Goma, capital da província do Kivu Norte.
Acresce à urgência sanitária que se está a desenhar uma urgência humanitária, depois de o Programa Alimentar Mundial ter revelado que as reservas de comida estão a acabar e falta água.
Segundo a ONU, para os hospitais sobrecarregados, as próximas 24 horas são críticas.