A Organização Não-Governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) vai "suspender todas as atividades médicas" no hospital de Bashair, no Sudão, numa região de Cartum controlada pelas Forças de Resposta Rápida (RSF), devido aos repetidos ataques dos últimos meses.
"Apesar dos extensos contactos com todas as partes envolvidas, estes ataques continuaram nos últimos meses, e a MSF tomou agora a decisão muito difícil de suspender todas as atividades médicas no hospital", anunciou a organização num comunicado divulgado esta manhã.
No texto, a MSF "condena fortemente os ataques violentos em curso a pacientes e funcionários do hospital universitário de Bashair" e afirma que nos últimos 20 meses o hospital onde trabalham funcionários e voluntários lado a lado passou "por repetidos incidentes de pessoas armadas a entrarem no hospital ameaçando os funcionários médicos e obrigando-os a tratarem primeiro os seus colegas, havendo um caso, a 11 de novembro, em que os atacantes dispararam as suas armas nas salas de emergência médica, matando um doente".
A MSF traça um cenário negro sobre as suas atividades de assistência médica e humanitária, descrevendo "uma violência intensa e extrema todos os dias", e lamentando as "faltas de alimentos e de instrumentos, que deixam as pessoas com muita dificuldade em sobreviver" na capital do Sudão, onde a guerra civil já dura há quase dois anos.
O hospital universitário de Bashair, em Cartum, é um dos últimos hospitais ainda a funcionar no sul da capital sudanesa que oferece cuidados de saúde gratuitos, e desde o final de setembro o hospital viu um forte aumento dos casos de pessoas que chegaram com ferimentos graves devido à escalada do conflito neste país africano.
"Às vezes, as pessoas chegam às dezenas ao mesmo tempo depois um ataque; no domingo, 5 de janeiro deste ano, 50 pessoas foram trazidas às urgências, com 12 já mortas depois de um ataque a um quilómetro do hospital", exemplifica a MSF.
A guerra entre o exército e as RSF eclodiu em abril de 2023 devido a fortes divergências sobre o processo de integração do grupo paramilitar - agora declarado como rebelde - nas forças armadas, uma situação que provocou o descarrilamento da transição iniciada após o derrube do regime de Omar Hassan al-Bashir em 2019.
Dezenas de milhares de pessoas foram mortas desde o início da guerra em 15 de abril de 2023, enquanto mais de 11 milhões estão deslocadas internamente devido à violência, tornando o Sudão o cenário da pior crise de deslocados internos do mundo, de acordo com a ONU.