O presidente da Associação Nacional dos Intérpretes de Língua Gestual Angolana (ANILGA) considerou hoje que estes profissionais poderão deparecer nos próximos anos em Angola por “falta de reconhecimento” da atividade e lamentou a “desvalorização” da classe.
“Infelizmente a figura do intérprete tende a desaparecer nos próximos anos, porque sem reconhecimento profissional claramente que não haverá a profissionalização e, também, a capacitação ou formação como tal, porque legalmente não é reconhecida como uma profissão”, afirmou Bismarque António.
Em declarações à Lusa, o responsável defendeu que atuação do intérprete deve ser profissionalizada, “mas infelizmente esta figura não é tida e não é reconhecida oficialmente como uma profissão”.
“E está é uma das grandes dificuldades que enfrentamos como intérpretes”, frisou, enfatizando ser esta uma das lutas da ANILGA a exemplo do que acontece em Portugal, Brasil, África do Sul e Namíbia, onde essa atividade é reconhecida como uma profissão, realçou.
Segundo Bismarque António, a empregabilidade dos intérpretes de língua gestual angolana está ameaçada, por falta de reconhecimento legal, e estes atuam atualmente apenas como colaboradores, prestadores de serviços e “mixeiros” (como são popularmente conhecidas em Angola as pessoas com trabalho temporário ou ocasional).
A figura do intérprete de língua gestual em Angola ganhou notoriedade sobretudo durante o período da covid-19, onde estes traduziam as conferências de imprensa televisionadas para a comunidade surdo/muda do país.
Atualmente esses profissionais têm presenças regulares nos principais serviços de informação da Televisão Pública de Angola (TPA) e de forma esporádica em algumas atividades públicas.
Considerou a presença de intérpretes de língua gestual nos serviços de informação da TPA como “um grande ganho para a inclusão”, observando, contudo, que estes trabalham apenas como prestadores de serviços, “o que compromete o seu futuro”, por não descontarem para a segurança social.
Bismarque António, também intérprete, destacou, por outro lado, a importância desta figura no processo de ensino e aprendizagem para as pessoas com deficiência auditiva, referindo que a ausência desta em salas de aula compromete a sua inclusão.
“Muitos dos intérpretes atuam como tal [tradutores em salas de aulas], mas não são reconhecidos como profissão, porque também fica muito difícil a sua empregabilidade por esta figura não fazer parte do qualificador ocupacional do país”, sinalizou.
O responsável afirmou igualmente que a ANILGA junto de instituições públicas, nomeadamente o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, Instituto Nacional de Línguas e do Ministério da Justiça e Direitos Humanos em busca de reconhecimento.
A ANILGA foi fundada em 2022 e conta atualmente com 405 associados espalhados pelas 18 províncias angolanas.