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Associações de técnicos de emergência reclamam aposta na formação e carreira

Lusa
21-12-2024 13:14h

As associações dos técnicos de emergência médica (ANTEM) e dos técnicos de emergência pré-hospitalar (ANTEPH) destacaram hoje que o socorro à população “vai muito além do INEM”, impondo-se apostar na formação e carreira dos técnicos de emergência.

“Oitenta a 90% do socorro é feito pelos bombeiros e pela Cruz Vermelha. Portanto, mesmo quando o INEM tiver os quadros completos – e nós defendemos tudo o que está a ser feito para tornar a carreira mais atrativa, para que o INEM possa ter uma força de elite de 1.200 homens - os problemas do socorro só se resolvem quando o técnico de emergência médica pré-hospitalar for uma profissão. E ainda não chegamos lá”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar (ANTEPH).

Em declarações à agência Lusa a propósito do projeto de relatório da auditoria à legalidade e eficiência da gestão do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Luís Canaria lamentou que ainda não tenha sido abordado “o real problema dos técnicos” de emergência pré-hospitalar.

“Estamos a reviver aquilo que se passou em 2016. Criou-se uma carreira especial da função pública, existem dezenas de técnicos que já saíram (muitos deles agora, com esta renovação da carreira, até poderiam ter interesse em voltar, se fosse feito um concurso de mobilidade na Administração Pública), mas o que importa (e aqui acreditamos que haja ‘lobbies’ por parte da Ordem dos Enfermeiros e também de alguns médicos para que isso não aconteça) é deixar que se crie a profissão de técnico de emergência médica”, sustentou.

Segundo o dirigente associativo, “esta profissão tem de ser transversal a todos os parceiros, para as pessoas poderem ser técnicos de emergência médica, a trabalhar no INEM, na Cruz Vermelha ou nos bombeiros, mas terem a sua profissão criada e regulada”.

“A partir daqui, há toda uma regulação de atuação e o português começa a ter um socorro homogéneo”, defende.

Também o presidente Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM), Paulo Paço, lembra que os técnicos do INEM “representam apenas cerca de 10% da resposta dos serviços médicos de emergência em Portugal”.

“Uma vez mais, reiteramos que aquilo que realmente é pertinente é que todos os operadores tenham uma formação mais diferenciada”, afirma, sustentando que “a formação dos operacionais que operam na rua é muito deficiente e fica muito abaixo daquilo que é a média europeia e outras referências a nível internacional”.

Como resultado, refere o dirigente associativo, um técnico que atualmente saia dos quadros do INEM e pretenda trabalhar no estrangeiro “pura e simplesmente não tem colocação, porque a carreira especial dos técnicos de emergência pré-hospitalar é uma coisa específica e única de Portugal”.

Relativamente às conclusões do relatório da IGAS, Paulo Paço refere que “nenhuma é novidade”, estando em causa situações para as quais a associação “tem vindo a chamar a atenção nos últimos anos”.

“Desde logo, a fraca qualidade da formação dos prestadores dos cuidados de emergência médica, sejam eles dos bombeiros, da Cruz Vermelha ou até mesmo do próprio INEM. Este relatório veio agora comprovar aquilo que nós temos vindo a denunciar relativamente à fraca qualidade da formação destes profissionais”, sustentou.

Apesar de esta situação “não ser novidade” para a ANTEM, o dirigente associativo diz ser “um pouco assustador que, nesta altura, ainda se lide” com ela e que “ao que ao que tudo indica, pareça não incomodar a maioria dos decisores políticos”.

Paulo Paço refere ainda que o relatório evidencia algo que a associação tem vindo também a denunciar reiteradamente, que é “o facto de alguns dos módulos da formação [dos técnicos de emergência pré-hospitalar] não estarem ainda implementados em toda a sua plenitude, o que coloca muito em causa a saúde pública dos portugueses”.

Quanto a algumas nomeações para cargos de direção intermédia do INEM que não terão cumprido os requisitos legais, segundo o relatório da IGAS, a ANTEM defende que “é necessário investigar essa situação”.

Já relativamente à antiguidade da frota automóvel do INEM – o relatório refere que um em cada três veículos de emergência médica daquele instituto estavam parados na oficina em outubro – a associação considera ser “preocupante”, mas lembra que também o denunciou por diversas vezes e que essa frota “representa apenas cerca de 10% do que é a emergência pré-hospitalar em Portugal”.

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