"Vi estudantes que comem uma simples massa com chouriço, uma sopa, ou arroz com ovo, repetindo isso por três ou quatro dias seguidos, numa semana", descreveu o estudante de engenharia informática, natural da ilha do Fogo e que vive na residência universitária.

“As refeições são preparadas na cozinha comum e, muitas vezes, são pouco nutritivas", contou à Lusa.

Elves percebeu que não se tratava apenas de descuido ou preferências alimentares, mas de restrições financeiras que afetam diretamente os estudantes e as suas famílias.

Segundo o estudante, o contrato com a residência cobre despesas como gás, Internet, luz e água, mas a alimentação é responsabilidade exclusiva dos alunos e suas famílias.

"A universidade já faz a sua parte, garantindo condições para morar, mas as dificuldades financeiras das famílias acabam por se refletir diretamente na vida dos estudantes", acrescentou.

O projeto de Elves já alcançou 17 quartos, cada um ocupado por três estudantes, oferecendo cestas básicas de alimentos e conjuntos de higiene pessoal.

Entre os beneficiários estão estudantes de São Tomé e Príncipe, de outras ilhas cabo-verdianas e do interior da ilha de Santiago.

"A reação é muito positiva", relatou, por parte dos beneficiários, mas também da comunidade e nas redes sociais.

O plano é expandir a iniciativa, em parceria com a ação social da universidade, transferindo a gestão do projeto para a associação de residentes estudantis, a cuja liderança planeia candidatar-se.

Apesar das dificuldades, os estudantes mantêm a resiliência e a esperança.

"Eles sonham com um futuro melhor e acreditam que a educação é o caminho para transformar as suas vidas", concluiu.

O projeto de Elvis Andrade soma-se a esforços institucionais já existentes para apoiar estudantes da residência universitária da Uni-CV.

Em novembro, a universidade anunciou que a Fundação Donana, que lidera o Banco Alimentar de Cabo Verde, fez uma doação de alimentos e produtos de higiene.

"Este donativo reforça a parceria que temos com a Fundação Donana, permitindo-nos melhorar o apoio social aos estudantes da residência universitária. Muitos têm dificuldades em garantir uma alimentação equilibrada, e esta ajuda faz toda a diferença", disse Fátima Fernandes, pró-reitora da universidade.

A Presidente da Fundação Donana, Ana Hopffer Almada, classificou a ação como parte de uma colaboração contínua, ambicionando oferecer também "conforto emocional", formação em educação para a cidadania e apoio moral.

"Sabemos que muitos deles enfrentam desafios longe de casa e a presença de alguém que os escute e acompanhe é igualmente importante", acrescentou Ana Hopffer Almada.