Uma equipa do Escritório de Direitos Humanos da ONU viajará na próxima semana para a Síria para ajudar a “garantir uma transição inclusiva e o respeito pelo quadro do direito internacional”, anunciou hoje a instituição.
“Há anos que não estamos na Síria, por isso é importante começar a estabelecer uma presença que esperamos que nos ajude a complementar o resto do trabalho da ONU em termos de direitos humanos”, disse Thameen al-Kheetan, porta-voz do gabinete liderado pelo Alto-Comissário Volker Türk, numa conferência de imprensa.
“A justiça transicional e a criação de confiança na comunidade, com base nos direitos humanos, serão importantes para o futuro da Síria e são a única forma de lidar com a enorme dor sofrida por indivíduos e famílias no país”, acrescentou, indicando que três peritos da ONU irão para a Síria.
Al-Kheetan, aludindo à justiça transicional, que deverá julgar os crimes cometidos pelas diferentes partes durante a guerra civil, insistiu para que o governo de transição tome medidas para preservar as provas.
“Isto inclui as valas comuns e os documentos das prisões, centros de detenção, ministérios e instituições do Estado, bem como outras provas que possam ser cruciais para documentar o que aconteceu e responsabilizar os culpados”, explicou.
Al-Kheetan sublinhou ainda, em relação à justiça transicional, a recente nomeação da mexicana Karla Quintana como diretora da nova Instituição Independente para as Pessoas Desaparecidas na Síria, aprovada pela Assembleia Geral da ONU no ano passado.
A partir de Damasco, e na mesma conferência de imprensa para jornalistas acreditados pela ONU em Genebra, a representante em exercício da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Síria, Christina Bethke, sublinhou as enormes necessidades que a população do país continua a enfrentar após 14 anos de conflito.
“As populações deslocadas, especialmente as que vivem em campos informais, são particularmente vulneráveis à sobrelotação, à insegurança alimentar e a condições de higiene inadequadas”, afirmou.
Essas áreas são “terreno fértil para problemas nutricionais, infeções respiratórias e outras doenças contagiosas que podem levar a problemas de saúde a longo prazo”, explicou, lembrando que foram detetados surtos de cólera nesses locais na Síria nos últimos dois anos.
Bethke acrescentou que, numa nação que sofreu mais de uma década de conflitos e deslocações, a saúde mental e os serviços psicossociais são fundamentais.
Segundo Bethke, nas últimas três semanas, marcadas pela ofensiva final dos rebeldes que levou à queda do regime de Bashar al-Assad, registaram-se 36 ataques a instalações de saúde na Síria, um número que excedeu o de todo o ano de 2023 (26).
Os ataques recentes resultaram em 23 mortos e 128 feridos, incluindo 25 que afetaram diretamente instalações de saúde, como clínicas ou hospitais, acrescentou.
Por fim, disse que a OMS apelou à comunidade internacional para angariar 56,4 milhões de dólares (54,28 milhões de euros) para satisfazer as necessidades mais urgentes na Síria durante os próximos seis meses.