Dirigentes empresariais disseram à Lusa que a crescente integração de Macau com a vizinha Hengqin (ilha da Montanha) e com o sul da China é “uma grande oportunidade” para companhias lusófonas entrarem no mercado chinês.
A liderança da zona especial económica de Hengqin “quer mesmo” atrair companhias lusófonas, em parte porque inclui pessoas “lá colocadas pelo governo de Macau que estão a par das vantagens deste sabor português que Macau tem”, explicou o presidente da Câmara de Comércio Europeia em Macau (MECC, na sigla em inglês).
Rui Pedro Cunha recordou que, ainda na pandemia de covid-19, a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau já estava a estudar as leis dos países de língua portuguesa “para permitir que um contrato comercial feito em Hengqin possa especificar qual é o direito que se aplica”.
O dirigente sublinhou que as mercadorias estrangeiras transformadas em Hengqin, com um valor acrescentado de pelo menos 30%, podem depois aceder livremente ao resto da China continental.
De acordo com a Organização Mundial do Comércio, desde 2020 que os bens de consumo estrangeiros pagam uma tarifa alfandegária média de 6,9%, além de um Imposto de Valor Acrescentado (IVA) de 13%.
“Pode ser uma extraordinária vantagem em comparação com produzir em Portugal, transportar para a China e depois ainda pagar direitos à entrada”, defendeu Cunha.
O presidente da MECC disse que as empresas portuguesas teriam “muito a ganhar em começar por Hengqin, até numa perspetiva de escala”, porque a China “é um território gigantesco”, com 1,4 mil milhões de pessoas.
Cunha apontou a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau como a região “com maior probabilidade de sucesso”, uma vez que já concentra mais de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês.
A Grande Baía é um projeto de Pequim para criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, com 86 milhões de habitantes e uma economia superior a um bilião de euros em 2023.
Os empresários portugueses devem olhar para Macau, “não como 600 mil habitantes”, mas sim como parte de uma região “com um PIB 10 vezes o de Portugal e com perspetiva de crescimento acelerado”, disse o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa.
Uma vez que “a China pode assustar, porque é um país gigante”, Carlos Cid Álvares defendeu que as empresas lusófonas podem “apostar em Macau para fazer essa triangulação com negócios na Grande Baía”.
Mas Rui Pedro Cunha admitiu que poderá não haver muitos interessados, uma vez que, “com exceção do Brasil e em Angola, em alguns setores, possivelmente não existirão empresários com uma dimensão interna que ponderem a expansão internacional”.
No caso do Brasil, acrescenta Carlos Cid Álvares, “85% dos negócios têm tal dimensão que passam diretamente por Pequim e não precisam de Macau”.
O Brasil é de longe o maior parceiro comercial da China entre os países lusófonos e, nos primeiros dez meses de 2023, o comércio bilateral subiu 8,4% em termos anuais para 160,4 mil milhões de dólares (152,8 mil milhões de euros).
Ainda assim, Carlos Cid Álvares, também presidente do Banco Nacional Ultramarino, que pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos, acredita que há estados brasileiros mais periféricos “para os quais poderia ser utilíssimo Macau e Hengqin como plataforma”.
Rui Pedro Cunha acredita que falta mais promoção, algo que foi impossível durante a pandemia.
“Agora estão a começar a fazer visitas de charme para se darem a conhecer no exterior”, sublinhou o presidente da MECC, dando como exemplo, em setembro, a deslocação da liderança de Hengqin para falar com a agência de promoção de investimento de Oeiras.
Mas, alertou Cunha, as empresas devem aproveitar "uma grande oportunidade", porque algumas das políticas especiais em Hengqin “eventualmente deixarão de ser necessárias quando já existir uma determinada massa crítica”.