A Federação Distrital do PS do Porto considerou hoje um "retrocesso inaceitável" a transferência da gestão do Hospital de Santo Tirso para a União das Misericórdias Portuguesas, fruto de um protocolo assinado com o Ministério da Saúde.
“Esta decisão, tomada sem a devida consulta às autoridades locais e à população, representa um retrocesso inaceitável na defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como pilar fundamental do nosso sistema de saúde”, afirma o presidente da federação, Nuno Araújo.
Em comunicado, o PS/Porto defende que a transferência da gestão do Hospital de Santo Tirso para a União das Misericórdias “contraria os investimentos significativos realizados nos últimos anos”, como a Unidade de Apoio ao Serviço de Urgência e aos Cuidados de Saúde Primários na área da saúde mental, inaugurados em 2023 e fruto de um investimento de cinco milhões de euros.
“Esta medida desconsidera os esforços empreendidos e os recursos aplicados na qualificação do hospital, colocando em risco a qualidade e equidade no acesso aos cuidados de saúde pela população de Santo Tirso”, assinala.
Dizendo discordar da decisão do Governo, Nuno Araújo lembra que a gestão pública do SNS “assegura a universalidade, generalidade e gratuitidade dos cuidados de saúde”, princípios que “não podem ser comprometidos por decisões que fragilizam a sua estrutura e funcionamento”.
“Esta decisão alinha-se com políticas de desinvestimento no SNS, que o Partido Socialista sempre combateu, por entender que enfraquecem a capacidade de resposta pública e abrem caminho para a mercantilização da saúde”, afirma, exigindo esclarecimentos urgentes do Governo e apelando à reversão da medida.
O PS/Porto diz ainda estar solidário com os colaboradores do hospital, cujos postos de trabalho “podem estar em risco”, e com a população do concelho, que “vê ameaçado o seu direito a cuidados de saúde de qualidade, universais e gratuitos”.
Na quinta-feira, na assinatura de um protocolo genérico entre a União das Misericórdias Portuguesas e o Ministério da Saúde, Luís Montenegro fez o anúncio de que o Governo irá retomar “um caminho que não devia ter sido travado, de contar com as Misericórdias na gestão de unidades hospitalares”.
Segundo Montenegro, a ministra da Saúde já está a trabalhar com algumas misericórdias, como as de São João da Madeira (distrito de Aveiro) e de Santo Tirso (distrito do Porto), “para a transferência dos respetivos hospitais para as mãos das Misericórdias”.
“Este processo de transferência de equipamentos, quando se justificar na base de uma contratualização bem edificada, vai ser retomada”, defendeu.
Também hoje, numa conferência de imprensa no parlamento, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, criticou o Governo por passar a gestão de algumas unidades hospitalares para as Misericórdias e acusou-o de passar “uma obrigação que é sua” por não conseguir resolver os problemas dentro do SNS.