O primeiro-ministro avisou hoje que não se pode continuar a “atirar mais dinheiro para cima do problema da saúde” para ter “pior ou igual resultado” e rejeitou as críticas de que o Governo privilegia os anúncios.
Luís Montenegro presidiu à assinatura de um protocolo genérico entre a União das Misericórdias Portuguesas e o Ministério da Saúde, na residência oficial em São Bento (Lisboa), que classificou de “histórico”, tal como tinha feito antes o presidente daquela associação, Manuel Lemos.
“Corremos os dois o risco de ir parar a um programa, enfim, de boa disposição ao domingo depois de jantar. Mas mesmo correndo esse risco, de facto nós estamos a fazer história, nós estamos a avançar na história, nós estamos a promover o estreitamento de uma relação que, creio, é insubstituível”, disse Montenegro, numa alusão ao programa “Isto é gozar com quem trabalha”, do humorista Ricardo Araújo Pereira.
No final da sua intervenção, o chefe do Governo defendeu que o país não pode “viver mais com uma tendência que se agravou nos últimos anos”: “Gastando mais dinheiro, termos menos capacidade de responder às necessidades das pessoas”, alertou.
Tal como tinha anunciado no debate quinzenal de quarta-feira, o primeiro-ministro reiterou que o Governo aprovou hoje em Conselho de Ministros “um conjunto de despesas superior a 2 mil milhões de euros para ter uma poupança de 247 milhões” com a centralização de compras de na saúde.
“Nós não podemos atirar mais dinheiro para cima do problema da saúde para ter pior ou o mesmo resultado na melhor das hipóteses. Nós temos de aproveitar os dinheiros públicos, aproveitar os recursos públicos para ter muito melhores resultados e nós podemos mesmo ter melhores resultados. Eu até vou dizer com convicção, nós vamos ter melhores resultados”, considerou.
O chefe do Governo aproveitou para responder, de forma indireta, às críticas do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, no debate parlamentar da véspera.
“Quando às vezes alguns se querem distrair e distrair os outros, fazendo menção a planos que são apresentados, a ‘powerpoints’ que são exibidos, eu tenho que compreender, faz parte da dialética política. Mas não é verdade que este Governo tenha privilegiado a construção de papéis, de estratégias, de planos, de objetivos, em detrimento da execução concreta no terreno”, afirmou, dando como exemplos a duplicação da consignação do IRS para as instituições particulares de solidariedade social ou a atualização extraordinária do protocolo com o setor social e solidário.
O primeiro-ministro classificou as Misericórdias como “o braço armado” dos setores social e da saúde, “um parceiro de confiança”, e realçou a presença na cerimónia dos ex-ministros Maria de Belém (PS), Pedro Mota Soares (CDS-PP) e do antigo secretário de Estado do PSD Marco António Costa.
“Três personalidades de três proveniências político-partidárias, mas muito próximos na perspetiva e na vontade de intervir e ajudar o setor social e as Misericórdias a cumprirem a sua tarefa, a sua missão, que eu reputo de autêntico serviço público”, defendeu.
Em particular em relação à antiga ministra da Saúde, Montenegro disse partilhar com a Maria de Belém a conceção do sistema de saúde.
“Infelizmente não ficou plasmada na lei de bases que hoje temos vigente (…) Ambos pensamos que a estrutura do nosso sistema de saúde, a estrutura principal é o SNS, não há dúvida nenhuma quanto a isso”, disse, acrescentando ser absurdo não aproveitar a restante capacidade dos setor social e privado.
“Sinceramente, eu digo isto muitas vezes, as pessoas não estão interessadas em saber se é de esquerda, se é de direita uma determinada política, se o serviço público que é prestado é num edifício que pertence ao Estado, ou que pertence a uma IPSS, ou uma misericórdia, ou até a uma empresa. O que as pessoas querem é ver o seu problema resolvido, a sua necessidade satisfeita”, reiterou.