Samir Ghalioun, refugiado sírio em Portugal, afirma que a transição de regime na Síria trará à população “liberdade, uma vida melhor e direitos”, uma mudança face à vida “sem direitos nem liberdade” sob o regime do Presidente Bashar al-Assad.
“A maior parte da população aceita esta mudança e com este novo governo as pessoas vão ter liberdade, uma vida melhor e direitos. Antes, com Assad, as pessoas não tinham direitos nem liberdade e tinham uma vida má. Mas penso que no futuro as coisas vão ficar bem”, disse Samir à agência Lusa.
O refugiado sírio, que veio para Portugal em 2015 e trabalha agora na distribuição alimentar, acrescentou ainda que o “que aconteceu em Idlib foi bom e o mesmo acontecerá agora no resto da Síria”, referindo-se à província síria que escapou ao controlo do regime de Damasco e que tem sido administrada pelo “Governo de Salvação”, ligado à Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) que liderou a ofensiva relâmpago de 12 dias que pôs fim aos 24 anos de poder de Bashar al-Assad.
No entanto, Samir expressou preocupação com os avanços e ataques israelitas na Síria, que lançou cerca de 480 ataques em território sírio nos últimos dias, referindo que Israel está a aproveitar o período de transição do regime para “expandir o seu território”.
“A população na Síria já não está em guerra, mas há alguns problemas porque Israel está a aproveitar o momento para expandir o seu território. Israel já entrou na Síria e não sei o que vai acontecer”, afirmou.
Samir admitiu ainda que a transição do regime “vai demorar algum tempo” e que nas próximas semanas “vai haver alguma confusão, mas estamos no caminho certo”.
“O preço da comida aumentou, mas isso é por causa da inflação, que desvalorizou a moeda, e há pessoas armadas na rua, mas a minha família sente-se segura e vai ficar tudo bem”, disse.
Ainda assim, embora a vila onde a sua família vive seja segura, o refugiado reconheceu: “Nem toda a Síria é igual”.
“Em Damasco há alguns roubos e crimes, mas o novo regime já instaurou um recolher obrigatório, das 16:00 até às 05:00 da manhã (mais três horas do que em Lisboa). Mas quando há um novo regime é normal o país ficar assim”, reiterou.
Entretanto, as lojas estão a reabrir e as pessoas estão a regressar ao trabalho em Damasco, à medida que a vida quotidiana é gradualmente retomada.
Ainda à Lusa, Samir criticou o “corrupto” regime de Assad, afirmando que o Presidente deposto sírio “usou a sua posição para roubar e para se envolver no tráfico de droga, especialmente na produção de ‘captagon’”, uma anfetamina perigosa e altamente aditiva.
“O novo governo não vai ser corrupto e já está a destruir as fábricas de ‘captagon’”, disse.
Questionado sobre a situação da sua família na Síria, Samir afirmou que “para já, ninguém quer fugir. Querem todos ficar na Síria”.
“Tenho um irmão no Líbano que está a pensar em voltar para a Síria na próxima semana. Eu talvez volte para a Síria, talvez continue a minha vida em Portugal. Ainda estou a decidir”, concluiu.
A coligação rebelde liderada pela HTS, e que incluiu fações pró-turcas, lançou uma ofensiva relâmpago em 27 de novembro a partir da cidade de Idlib, um bastião da oposição, e conseguiu expulsar em poucos dias o exército de Assad das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco.
Bashar al-Assad fugiu com a família no domingo e pediu asilo político na Rússia.