O secretário-geral do PS acusou hoje o Governo de incompetências e de ter um problema com números, manipulando-os para sustentar falsos sucessos, mas o primeiro-ministro considerou que essas críticas fazem ricochete, invocando a história das governações socialistas.
Esta discussão foi travada entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro no início do debate quinzenal na Assembleia da República.
Nas suas intervenções, o líder socialista contestou a validade de números que têm sido apresentados pelo atual Governo PSD/CDS-PP, sobretudo, no que respeita ao impacto de medidas tomadas nos setores da educação (para diminuir os alunos sem professor) ou da saúde (para acabar com as listas de espera de doentes oncológicos).
De acordo com o secretário-geral do PS, o primeiro-ministro, por duas vezes, terá anunciado que não havia doentes oncológicos sem resposta após ter excedido o tempo máximo de espera. Mas o que acontece, na realidade, é que no final de outubro eram 1370.
Deixou então um repto ao primeiro-ministro: “Ou assume que foi mal informado pelos seus serviços e pede uma nova auditoria, ou então deve pedir desculpa ao país e a todos os doentes oncológicos que estão à espera acima do tempo máximo de resposta garantida”.
Depois de ter pegado neste exemplo e de já ter abordado a questão do número de alunos sem professor, o secretário-geral do PS lançou um ataque ao executivo PSD/CDS.
“Para além de governar para uma minoria da população portuguesa, o Governo tem dois graves problemas - problemas esses para além de ideológicos, mas que são muito importantes para a vida de todos. O Governo tem uma péssima relação com os números, com os factos, com os dados”, acusou.
Segundo o líder socialista, o executivo usa os números “de forma errada para sustentar o sucesso das suas políticas”.
“A primeira nota que retiramos destes meses é que o Governo não tem credibilidade e tem também falta de competência”, completou.
Na resposta, o primeiro-ministro considerou que é preciso Pedro Nuno Santos ter alguma coragem para, em nome do PS, “falar em fidedignidade de números e falar em má relação com os números, porque se há partido que, historicamente, tem um problema de credibilidade com os números, esse partido é o PS”.
A seguir, Luís Montenegro contra-atacou, aludindo à forma como o atual líder do PS exerceu funções governativas entre novembro de 2015 e o início de 2023.
“Está a reclamar pela competência que o senhor deputado não teve, nem os governos que integrou e apoiou. Está a reclamar por resultados que não obteve”, reagiu.
No domínio da saúde, o primeiro-ministro afirmou que os governos socialistas, em oito anos, “praticamente duplicaram o orçamento. Mas teve como resultado uma prestação de serviços que ficou muito mais aquém do necessário e do interesse dos cidadãos”.
Dirigindo-se a Pedro Nuno Santos, rematou: “Fica numa posição muito difícil para reclamar deste Governo, em oito meses, aquilo que não foi capaz de fazer em oito anos. Com o tempo, vamos verificar não só o efeito das transformações que estamos a fazer, como haverá prestação de melhores serviços e um funcionamento mais eficiente do sistema”.
O debate travado entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro começou com a questão do número de alunos sem aulas, depois de o atual ministro da Educação, Fernando Alexandre, ter defendido que o Governo reduziu esse número este ano letivo em cerca de 90%.
“Não podemos acreditar nos números do Governo. O ministro da Educação disse que eram 320 mil os alunos que estavam sem professor a uma disciplina no ano passado. Obviamente que, depois, apertado, teve que vir explicar que eram 320 mil que não tinham tido aulas em qualquer momento do mês”, referiu o líder socialista.
Neste contexto, Pedro Nuno Santos lembrou que Fernando Alexandre, Antes, “tinha feito um anúncio de redução de 90% do número de alunos sem professor a pelo menos uma disciplina e nós dissemos sempre que era praticamente impossível”.
“Tentou empolar os números, não conseguiu, tentou uma segunda vez, apresentando números errados - números desmentidos pelo PS e pela Fenprof. Felizmente, as jornalistas do semanário Expresso não largaram o ministro e, ao fim de algum tempo, teve então de admitir que os dados não eram infalíveis e estavam errados”, acrescentou o líder socialista.