Os conflitos armados, as alterações climáticas e as deslocações aumentaram o tráfico de africanos, denunciou hoje o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) no relatório "Tráfico de Pessoas de 2024".
"Entre os muitos fatores que impulsionam o tráfico de pessoas, os conflitos armados, as alterações climáticas e as deslocações que lhes estão associadas parecem estar a ter impacto nos padrões de tráfico em África", indicou a agência da ONU.
O número de vítimas de tráfico detetadas a nível mundial está novamente a aumentar, depois de ter diminuído durante a pandemia da covid-19, contextualizou.
"A África Subsariana registou aumentos significativos de vítimas em comparação com 2019, enquanto os países do Norte de África registaram um aumento comparativamente a 2020", embora, nesta região, os números ainda se mantenham inferiores em relação ao período pré-pandemia, indicou.
Os países africanos "intensificaram os seus esforços para resolver o problema do tráfico de pessoas", no entanto, a resposta da justiça penal visa mais tipicamente pequenos grupos e traficantes individuais ligados ao tráfico interno e menos frequentemente organizações criminosas estruturadas que gerem o tráfico internacional, lamentou.
De um modo geral, as crianças são tipicamente traficadas para trabalhos forçados em distâncias curtas, permanecendo no seu país ou região, com os traficantes a explorarem a necessidade económica de algumas famílias.
Os números deste tipo de tráfico aumentaram porque o número de casos na África Subsariana subiu, frisou.
Outra questão salientada pelo escritório da ONU é que o tráfico para fora de África envolve principalmente adultos para fins de exploração laboral e sexual.
"A comunidade internacional deve apoiar os países africanos na aplicação de sistemas regulamentares que garantam a extração legal, sustentável e segura dos recursos naturais, bem como no aumento do comércio justo e na redistribuição da riqueza para reduzir o trabalho infantil e o tráfico de crianças para trabalhos forçados", recomendou.
Tem também sido registado o aumento do número de meninos vítimas de tráfico na Europa Ocidental e do Sul vindos de África.
"A maioria dos meninos vítimas na Europa Ocidental e do Sul são cidadãos estrangeiros, principalmente do Norte de África, da África Subsaariana e da Ásia. A maioria das crianças desacompanhadas tem entre 14 e 17 anos de idade e são meninos, sendo a maioria originária do Norte da África e do Afeganistão", especificou.
O tráfico para trabalho forçado é relativamente mais identificado na África Subsaariana, no Norte de África, no Médio Oriente, na América do Sul e no Sul da Ásia, disse.
"Em 2022, as vítimas traficadas para mendicidade forçada foram detetadas no Norte de África e no Médio Oriente (cerca de 180 vítimas), na Europa Ocidental e Meridional (cerca de 100 vítimas), na Europa Central e Sudeste (cerca de 100 vítimas), na América do Sul (cerca de 70 vítimas), na África Subsaariana (cerca de 60 vítimas) e documentadas em outras regiões. Vítimas de tráfico para casamentos forçados foram detetadas no sul da Ásia (cerca de 200 vítimas), no Oeste e Sul da Europa (cerca de 100 vítimas) e documentadas em outras regiões", enumerou.
"No Norte de África, meninos, meninas e mulheres foram identificadas em proporções quase iguais, sendo que os meninos representaram a maior parte por uma pequena margem (33% do total) em 2022", referiu.
As vítimas na África Ocidental eram principalmente cidadãos do país onde foram identificadas e na África Oriental eram traficadas internamente ou originárias de outros países da África Oriental e da África Austral, declarou.
Os fluxos que afetaram a África Austral em 2022 foram mais diversificados do que os das outras duas sub-regiões, disse.
Em Angola, por exemplo, foram 20 os crimes de tráfico de pessoas em 2023, sendo que 25 pessoas foram condenadas e o número de vítimas foi 44, das quais 21 eram mulheres e 13 eram meninos.
Relativamente à posição geográfica do Brasil, mulheres e meninas "constituíram o maior perfil de vítimas na América do Sul em 2022, representando 62% de todas as vítimas", segundo o relatório.
"Homens e meninos raramente foram vítimas de exploração sexual em 2022. As mulheres eram o perfil predominante, constituindo 77% de todas as vítimas para esse fim", lamentou.
Porém, no Brasil houve 371 vítimas identificadas de tráfico em 2023, das quais 314 eram homens e 351 eram de outras nacionalidades, segundo os dados do estudo.
Este relatório é o oitavo do género, mandatado pela Assembleia Geral através do Plano de Ação Global das Nações Unidas para Combater o Tráfico de Pessoas de 2010.
"Esta edição do Relatório Global fornece um retrato dos padrões e fluxos de tráfico (...) e abrange 156 países, analisando os casos de tráfico detetados entre 2019 e 2023", concluiu.