O líder do PS defendeu hoje que a vida política de Mário Soares “vale como um todo” e recusou que o seu percurso seja marcado por contradições, considerando que “esteve sempre do lado certo das lutas” em que participou.
Na intervenção em nome do PS na sessão solene evocativa do centenário do nascimento de Mário Soares, no parlamento, Pedro Nuno Santos, que se afirmou socialista desde que nasceu, referiu que o antigo Presidente da República foi a sua “referência política” e o político português que “mais admirava” e com quem mais se identificava.
“Quem dedicou sete décadas da sua vida à política expressou, em momentos distintos, diferentes opiniões e tomou diferentes posições, mas tal não significa que o seu percurso seja marcado por contradições”, defendeu.
Segundo o secretário-geral do PS, “Mário Soares esteve sempre do lado certo das lutas em que tomou parte”.
“Em tempos sombrios, Soares esteve do lado certo na luta contra a longa noite da ditadura, batendo-se com toda a sua inteligência e coragem. Gabava-se, e tinha esse direito, de nunca ter cedido perante a tortura de sono a que foi submetido”, enalteceu.
Pedro Nuno Santos deu como exemplos do “lado certo” onde considera que o fundador do PS sempre esteve a “prioridade dada ao processo de descolonização”, a adesão de Portugal à CEE, o empenho na fundação do SNS, a revisão constitucional de 1982, que “pôs fim à tutela militar do regime democrático”, a “crítica feroz” à austeridade durante a ‘troika’ ou a procura da união da “esquerda contra um direita radicalizada”.
“Se, aos olhos de muitos, entrou em contradição ao longo do tempo, a minha convicção é a oposta. É minha convicção que o mundo mudou, nestas décadas, muito mais do que Mário Soares e que as inflexões no seu posicionamento resultam mais dos efeitos do pêndulo da História do que de incoerências no seu pensamento”, afirmou.
Para o líder do PS, “Soares viveu a História não como espetador, mas como protagonista e lutador incansável”, considerando que “contra a ditadura, foi resistente, conspirador, agitador”.
Segundo Pedro Nuno Santos, “a vida política de Soares vale como um todo”, recusando que, para a avaliar, se escolha o período que “mais convém ou mais agrada”, de acordo com a conjuntura do momento ou a posição que se quer defender.
A ideia de que a vida política de Soares vale como um todo foi uma das lições que o líder socialista retirou de uma reunião do núcleo duro da campanha após a pesada derrota que o histórico socialista teve nas presidenciais de 2005, campanha na qual foi responsável pela juventude, então como secretário-geral da JS.
Admitindo que essa reunião o impressionou e que Soares era o único “positivo e animado” quando os restantes estavam “acabrunhados e a carpir mágoas”, Pedro Nuno aprendeu “o real sentido da frase ‘só é vencido quem desiste de lutar’" e que "não há idade de reforma para a intervenção política".
Para o líder do PS, a história de Soares confunde-se com a história de Portugal do século XX e, tendo todos os seus cargos políticos tido "um princípio e um fim", o seu pensamento, ação política e resultados da mesma "vão perdurar" e inspirar muitos.
"Quando recordam esse intenso percurso, muitos procuram depurar o verdadeiro Soares, aquele que, no seu entender, a história deve guardar como referência", disse, considerando que tentam distinguir "o verdadeiro Soares moderado do Soares radical”.
No entanto, para Pedro Nuno Santos, “não existe contradição entre o Soares moderado e o Soares radical”, destacando como uma das suas maiores obras a fundação do PS cujo legado promete que tudo fará para honrar.
Nascido em 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução de 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.
Foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996.