O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) espera que a reunião da próxima semana com o Ministério da Defesa permita resolver a situação dos médicos civis do Hospital das Forças Armadas, admitindo recorrer à greve se isso não acontecer.
“A situação é tão grave e tão emergente de resolver que, se não houver uma resposta, teremos de avançar” para a greve, referiu à Lusa o secretário-geral do SIM, ao adiantar que o sindicato vai, para já, aguardar pela reunião agendada para 10 de dezembro com o secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional.
Nuno Rodrigues falava após uma reunião de esclarecimento sindical com médicos do Hospital das Forças Armadas em Lisboa, depois de já se ter realizado um encontro idêntico no polo do Porto da unidade de saúde.
Segundo o dirigente sindical, a situação dos cerca de 80 médicos civis que trabalham no hospital que presta cuidados de saúde aos militares, às suas famílias e aos deficientes das Forças Armadas obriga a “alterações imediatas” por parte do Governo.
Na prática, o SIM reivindica a regularização das progressões na carreira dos médicos civis, incluindo a progressão automática para assistente graduado com a aquisição do grau de consultor, assim como a abertura do primeiro concurso em mais de 20 anos para assistente graduado sénior.
Além disso, o sindicato pretende a inclusão dos médicos civis das Forças Armadas nos programas para recuperação de listas de espera do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e aplicação do regime de dedicação plena a esses profissionais de saúde.
Atualmente, de acordo com o SIM, os concursos não atraem médicos civis para o Hospital das Forças Armadas, incluindo recém-especialistas, e os médicos civis com o grau de consultor continuam a ser remunerados como assistentes.
Para Nuno Rodrigues, para a resolução destas matérias “nem há necessidade de uma grande mesa negocial” com o Governo, bastando, na maioria dos casos, “aplicar a lei” que já existe.
O dirigente sindical salientou ainda que o Hospital das Forças Armadas “padece dos mesmos problemas do que o SNS”, com longas listas de espera para cirurgia e atrasos nas consultas, mas é menos atrativo para os médicos do que as restantes unidades do serviço público de saúde.
“Se não há carreira, porque é que um médico se vai candidatar para ficar igual daqui a 10 anos”, questionou Nuno Rodrigues.
No início do mês, a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) alertou para a falta de meios humanos e financeiros no funcionamento da saúde militar, afirmando que “paira a sensação” de que o Governo terá um “desígnio não assumido” de privatização.
“Os relatos que a AOFA recebe abundantemente, a um ritmo diário, dão conta de tempos de espera cada vez mais demorados, dificuldades de resposta por falta de equipamentos ou obsolescência dos mesmos, exiguidade de meios humanos e financeiros, com consequente adiamento ou cancelamento de atos, encerramento de serviços e de camas hospitalares, constrangimentos no acesso a medicamentos e dispositivos médicos de uso comum, entre tantos outros obstáculos ao normal funcionamento de uma unidade militar e de saúde”, alertou a associação em comunicado.