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Estudo revela que herbicida glifosato pode causar danos duradouros no cérebro

Lusa
04-12-2024 16:57h

Um estudo publicado hoje na revista científica Neuroinflammation mostra “pela primeira vez” que mesmo um contacto breve com o herbicida glifosato, um dos mais usados em todo o mundo, pode causar danos duradouros no cérebro.

O investigador Ramon Velazquez, da Universidade do estado do Arizona (ASU), e os seus colegas, incluindo do Translational Genomics Research Institute (TGen, instituto de investigação genómica sem fins lucrativos com sede em Phoenix, Arizona), nos Estados Unidos, “demonstraram que ratos expostos ao herbicida glifosato desenvolvem uma inflamação cerebral significativa, que está associada a doenças neurodegenerativas”, segundo um comunicado sobre o trabalho divulgado pela universidade.

O que os cientistas identificaram foi uma associação entre a exposição dos ratos ao herbicida e sintomas de neuroinflamação, bem como de um agravamento de uma patologia semelhante à doença de Alzheimer, morte prematura e comportamentos semelhantes à ansiedade.

Ao analisar quer a presença do glifosato, quer o impacto dos derivados do herbicida no cérebro muito depois do fim da exposição, foram revelados “uma série de efeitos persistentes e prejudiciais à saúde do cérebro”.

A investigação demonstrou ainda que um subproduto do glifosato, o ácido aminometilfosfónico, se acumula no tecido cerebral, levantando sérias preocupações sobre a segurança do produto químico para os humanos.

As experiências foram realizadas ao longo de 13 semanas, seguidas de um período de recuperação de seis meses, em ratos normais e transgénicos (com doença de Alzheimer), tendo os cientistas testado dois níveis de exposição ao glifosato: uma dose alta, de nível semelhante ao usado em estudos anteriores, e uma mais baixa, próxima da do limite considerado para determinar a dose aceitável para humanos.

Esta dose menor também provocou efeitos nocivos nos cérebros de ratos, mesmo depois de meses da exposição terminar. “O glifosato causou um aumento persistente nos marcadores inflamatórios no cérebro e no sangue, mesmo após o período de recuperação”.

“O nosso trabalho contribui para a crescente literatura que destaca a vulnerabilidade do cérebro ao glifosato”, diz Velazquez, citado no comunicado.

“Dada a crescente incidência de declínio cognitivo na população idosa, particularmente em comunidades rurais onde a exposição ao glifosato é mais comum devido à agricultura em larga escala, há uma necessidade urgente de mais investigação básica sobre os efeitos deste herbicida”, adianta.

A Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos considera que a exposição a determinados níveis de glifosato é segura para as pessoas, afirmando que o produto químico é minimamente absorvido pelo corpo e é predominantemente excretado inalterado.

Há um ano, com base num relatório da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), a Comissão Europeia decidiu renovar por dez anos (até 2033) a aprovação da utilização do herbicida glifosato na União Europeia (UE), embora sob novas condições e restrições, como a proibição do uso antes da colheita.

A EFSA não identificou áreas críticas de preocupação e concluiu também não haver qualquer prova de que o herbicida mais utilizado seja cancerígeno.

No entanto, de acordo com o comunicado da Universidade do Estado do Arizona, a Agência Internacional de investigação sobre o Cancro, da Organização Mundial da Saúde, classifica o glifosato como "possivelmente cancerígeno para humanos".

Os trabalhadores rurais têm uma maior probabilidade de serem expostos ao glifosato por inalação ou contacto com a pele, mas, devido ao seu uso generalizado, o produto químico é encontrado em toda a cadeia alimentar.

“A minha esperança é que o nosso trabalho impulsione uma investigação mais aprofundada sobre os efeitos da exposição ao glifosato, o que pode levar a um reexame da sua segurança a longo prazo e talvez desencadear uma discussão sobre outras toxinas predominantes no nosso ambiente que podem afetar o cérebro”, adianta Samantha K. Bartholomew, do Laboratório Velazquez de Doenças Neurodegenerativas e principal autora do estudo.

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