Um em cada quatro laboratórios clínicos inquiridos num estudo hoje divulgado apontou atrasos médios superiores a 60 dias nos pagamentos das Unidades Locais de Saúde no primeiro semestre deste ano.
O ‘Inquérito aos Prazos de Recebimento’, realizado aos laboratórios associados à Associação Nacional de Laboratórios Clínicos (ANL), recolheu informações sobre os prazos de pagamento das 39 Unidades Locais de Saúde (ULS) no primeiro semestre de 2024, tendo concluído que o prazo médio de recebimento global declarado pelas empresas situou-se em 64 dias.
Relativamente aos maiores prazos médios observados por entidade, os dados indicam que 45% dos laboratórios inquiridos registaram, nos últimos seis meses, pelo menos uma entidade cujo prazo médio de recebimento foi superior a 120 dias, “realidade que representa um desafio significativo para a gestão financeira das organizações”.
Analisando os prazos médios de recebimento por ULS, o estudo verificou que, relativamente a estas entidades, o prazo médio de recebimento reportado se situa nos 66 dias, dois dias acima do prazo médio de recebimento global.
“Contudo, observa-se uma significativa disparidade nos prazos médios registados nas diferentes ULS a nível nacional. Em 24 das 39 ULS (correspondendo a 62% destas entidades), os prazos de recebimento são iguais ou inferiores a 60 dias”, destaca o estudo.
Nas restantes 15 ULS (representando 38% do total), os pagamentos são efetuados em prazos consideravelmente superiores.
Destas, quatro destacam-se por apresentarem tempos médios de recebimento superiores a 90 dias a ULS do Alto Ave (91 dias), a ULS da Guarda (98 dias), a ULS do Baixo Alentejo (103 dias) e a ULS do Nordeste (146 dias).
Segundo a ANL, este cenário influencia diretamente os fluxos de caixa, com 35% dos laboratórios a afirmar que os prazos de recebimento têm um impacto significativo ou elevado nas suas finanças, contrastando com apenas 15% que indicam sofrer um impacto ligeiro ou nulo.
Cerca de 50% dos laboratórios associados consideram os prazos praticados no mercado inadequados, apelando a uma revisão das políticas de pagamento em vigor.
“Os problemas não se limitam ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). A ADSE, com prazos médios de 120 dias, empresas de medicina do trabalho e serviços sociais de entidades públicas, como a PSP, também apresentam desafios significativos no cumprimento dos prazos de pagamento”, salienta a associação.
As conclusões do inquérito, que contou com uma taxa de resposta representativa de 74% do volume de negócios dos associados da ANL, expressam “uma profunda preocupação dos laboratórios clínicos privados no que diz respeito à sustentabilidade financeira do setor, com pequenos laboratórios a enfrentarem o risco iminente de rutura devido aos atrasos nos pagamentos”.
“O recurso a soluções como ‘factoring’ ou outras soluções de cedência dos créditos a instituições financeiras torna-se necessário, acarretando custos financeiros não refletidos nos preços de venda”, salienta a ANL.
De acordo com os laboratórios inquiridos, é urgente rever as políticas de pagamento, de forma a reduzir o prazo para 30 dias, mas também importa rever os preços com base na inflação.
Para a ANL, os resultados do relatório “são alarmantes” e reforçam a importância de abordar os atrasos nos recebimentos, com o intuito de zelar pela sustentabilidade do setor.
Adianta em comunicado que este inquérito será realizado semestralmente, permitindo, assim, acompanhar a evolução dos prazos de recebimento e tomar medidas proativas.
“Os laboratórios clínicos desempenham um papel crucial no sistema de saúde português, pelo que a sua estabilidade financeira é crucial para manter a qualidade e a inovação nos serviços prestados”, sublinha a ANL, apelando a todas as entidades para que cumpram os prazos legais e máximos de pagamento.