SAÚDE QUE SE VÊ

ICBAS e Santo António querem dar voz ao doente na investigação clínica

Lusa
27-11-2024 17:42h

O diretor do Centro Académico Clínico ICBAS-Santo António, do Porto, considerou hoje que o doente deve deixar de ser um agente passivo na investigação clínica e ter voz desde o início do processo, nomeadamente nos ensaios clínicos.

“A qualidade da investigação melhora se incluirmos os doentes e não está em causa só uma mudança de paradigma ético (…). Na prática clínica isto também aconteceu. Antes dizia-se ao doente o que é que ele ia fazer [no tratamento de uma doença] e agora decidimos com o doente, dentro de várias opções, o que é que ele quer fazer. Porque é que na investigação clínica não se faz a mesma coisa? O resultado final, pelo menos indireto, da investigação impacta na vida do doente”, disse Mário Santos.

Diretor do Centro Académico Clínico ICBAS-Santo António, um consórcio criado entre o Centro Hospitalar Santo António e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Mário Santos defendeu hoje a inclusão dos doentes, através das associações que os representam, em estudos e ensaios clínicos “mas como agentes ativos e não passivos”.

“O que gostávamos que acontecesse no futuro, e vamos acompanhando as tendências que existem, é incluir a voz do doente desde o início da investigação”, disse,

À Lusa – e a propósito do encontro “Para Além do Papel de Doente: Reformulando a Investigação Juntos, da Investigação Pré-clínica até à Prestação de Cuidados de Saúde que hoje decorreu no Porto e juntou associações de doentes, investigadores, profissionais de saúde, entre outros agentes da área – Mário Santos referiu que a missão dos centros académicos clínicos é incrementar a investigação clínica, investigação clínica que vai gerar melhores cuidados de saúde no hospital e melhor formação dos profissionais de saúde e melhor geração de conhecimento na academia.

“Por isso o doente tem de estar incluído. O doente é o beneficiador comum”, resumiu.

Mário Santos considera que desde o momento em que um conjunto de investigadores pensa fazer um ensaio clínico ou fazer um estudo, deve colocar-se em comunicação com a associação de doentes que tem a experiência de ter essa doença.

O objetivo é acomodar a opinião do doente e, durante a execução do projeto, ter doentes que ajudem a identificar outros doentes que possam ser recrutados para o estudo e que possam ajudar a reter o doente durante o estudo, bem como ajudar a divulgar o resultado do estudo.

E deu um exemplo que se passou nos Estado Unidos da América.

“Uma das prerrogativas para o doente entrar no ensaio clínico era não beber álcool durante o ensaio clínico. Foi a associação de doentes que disse aos investigadores: como assim, eu não tenho o direito de beber álcool socialmente durante dois anos? Isso não vai acontecer, não vão conseguir. E eles mudaram o protocolo porque não havia nenhum argumento biológico que exigisse essa prerrogativa”, contou.

A reflexão que pautou o encontro de hoje parte da convicção de que “a participação ativa dos doentes na investigação clínica tem vindo a transformar-se numa peça-chave para os avanços na área da saúde, impulsionando o desenvolvimento de terapias mais eficazes, seguras e verdadeiramente centradas nas suas necessidades”, acrescenta o resumo do encontro enviado à Lusa.

“A investigação biomédica centrada no doente tem vindo a ganhar força a nível global, mas a sua consolidação depende da promoção de um diálogo estruturado e inclusivo entre todos os intervenientes. Representantes de doentes, investigadores, profissionais de saúde, farmacêuticas, agências reguladoras, decisores políticos e financiadores precisam de trabalhar em conjunto para alinhar objetivos e acelerar este processo de inovação colaborativa”, lê-se no resumo.

Os centros académicos clínicos existem desde 2016.

Com a atual designação e orgânica, o Centro Académico Clínico ICBAS-Santo António existe há um ano.

Este consórcio visa “a concretização de um avanço significativo na investigação translacional e no desenvolvimento científico e uma melhoria significativa do ensino médico”, conforme a Portaria 295/2015, de 18 de setembro, dos Ministérios da Saúde e da Educação e Ciência.

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