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Animais mortos pela língua azul podem ser enterrados se houver atrasos na recolha - DGAV

LUSA
06-11-2024 15:47h

A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) admitiu hoje atrasos na recolha de cadáveres de animais no Alentejo, por incapacidade provocada pelo surto de língua azul, esclarecendo que, nestes casos, os produtores podem optar pelo enterramento.

“Temos consciência de que o número de animais para os quais é feita a comunicação de morte pode ser superior à capacidade de recolha em 24 horas”, reconheceu hoje a diretora-geral de Alimentação e Veterinária, Susana Pombo, em declarações à agência Lusa.

Vários produtores pecuários dos distritos de Évora e Beja relataram à Lusa atrasos na recolha dos cadáveres de animais, que ficam em decomposição nos terrenos vários dias ou até em alguns casos perto de duas semanas, após a comunicação da morte às autoridades.

Criado pelo Estado em 2003 com vista à salvaguarda da saúde pública, o Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA) é coordenado pela DGAV e assegurado por uma empresa, através de contrato de prestação de serviços.

De acordo com a diretora-geral de Alimentação e Veterinária, o SIRCA tem manuais de procedimento que incluem penalizações para os produtores que enterrem cadáveres de animais nas explorações pecuárias, mas também estão previstas exceções.

“Sempre que há motivos operacionais que impeçam a recolha, os animais podem ser enterrados sem nenhuma penalização para os produtores que tomem essa decisão” e isso está previsto no manual do SIRCA, realçou.

Susana Pombo salientou que um produtor que tenha um animal bovino, ovino, caprino ou suíno morto na sua exploração tem sempre que ligar para o centro de atendimento do SIRCA a solicitar a recolha do cadáver.

“Se a recolha não for feita até 20 horas após a comunicação de morte, um produtor pode optar pelo enterramento e a empresa, quando chegar à propriedade, regista no sistema o motivo de não ter efetuado a recolha e o produtor não tem penalização”, frisou.

Insistindo que “já é viável” o enterramento, a responsável da DGAV considerou que, se houver atrasos na recolha, esta opção até “é preferível do que deixar um cadáver à disposição de animais selvagens”.

Também em declarações à Lusa, Tiago Perloiro, produtor pecuário e secretário técnico da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME), disse que têm existido atrasos na recolha de cadáveres de animais, sem precisar qual a demora.

“Não sei até quantos dias, mas já ouvi pessoas falarem em 10 dias de demora. Não é admissível, do ponto de vista ambiental, que se espere este tempo todo para que um cadáver seja recolhido”, sublinhou.

Um outro agricultor da zona de Estremoz, no distrito de Évora, que pediu para não ser identificado, contou à Lusa que já enterrou na sua propriedade seis ovinos que morreram devido à doença da língua azul, depois de esperar 15 dias para que fossem recolhidos.

Nas declarações à Lusa, o secretário técnico da ANCORME defendeu que, no momento em que o produtor comunica a morte de um animal ao SIRCA, deve logo ficar definido entre as partes se o cadáver é recolhido ou enterrado.

Caso contrário, alertou o dirigente, a empresa que recolhe os cadáveres corre o risco de “gastar tempo e dinheiro em operação”, pois a sua equipa pode chegar à exploração que comunicou a morte e o criador já ter feito o enterramento.

A febre catarral ovina ou língua azul é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afeta os ruminantes e não é transmissível a humanos.

A DGAV autorizou, temporariamente, três medicamentos contra a língua azul, dois dos quais ainda não estão disponíveis no mercado.

Os serotipos 3 e 4 do vírus da língua azul já atingiram todos os distritos de Portugal continental, estando apenas livres da doença as regiões autónomas da Madeira e Açores.

No que diz respeito ao serotipo 3, os últimos dados oficiais, reportados à semana passada, indicam que foram contabilizadas 41 explorações de bovinos afetadas e 102 animais, sem mortalidade.

No caso dos ovinos, foi registado um total de 238 explorações e 11.934 animais afetados, assim como 1.775 mortos.

Por distrito, destacam-se Évora, com 90 explorações afetadas, e Beja, com 76, seguidos por Setúbal (48) e Portalegre (20).

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