Mais de 28.000 sudaneses foram contagiados por cólera, nos últimos quatro meses, e 836 morreram, sendo que os hospitais praticamente não funcionam, alertou hoje o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
"Os casos de cólera continuaram a aumentar durante várias semanas após o fim de uma estação das chuvas acima da média e de inundações históricas que destruíram e contaminaram as fontes de água. Entre 22 de julho e 28 de outubro foram notificados 28.376 casos e 836 mortes em 74 localidades de 11 estados", declarou o OCHA em comunicado.
Todavia, segundo o OCHA, o número real de casos é provavelmente mais elevado devido à subnotificação.
O estado com o maior número de casos é Kassala, com 6.868 casos e 198 mortes, identificou.
"Seguem-se Gedaref, com 5.770 casos e 168 mortes, Al-Jazira - onde se registam fortes combates - com 4.361 casos e 90 mortes e o estado do Norte, com 2.038 casos e 28 mortes", acrescentou.
Em 12 de agosto, o Ministério Federal da Saúde declarou oficialmente uma nova vaga de casos de cólera, que teve início em 22 de julho de 2024, contextualizou.
"No terreno, os parceiros humanitários e as autoridades sanitárias sudanesas continuam a intensificar a sua resposta à atual epidemia de cólera, sendo que a mais recente fase da campanha de vacinação começou em outubro, visando cerca de 1,4 milhões de pessoas nos estados de Kassala, Gedaref e Rio Nilo", explicou.
Além disso, foi registada febre de dengue nos estados de Kassala, Gedaref, Mar Vermelho, Cartum e Cordofão do Sul, indicou.
"De acordo com uma contagem feita e, 28 de outubro, foram registados 4.544 casos e 12 mortes relacionadas com a febre da dengue", declarou.
O estado com o maior número de casos de dengue é Kassala, com 2.357 casos e oito mortes. Seguem-se Cartum, com 2.083 casos e duas mortes e Gedaref, com 60 casos.
Esta epidemia de cólera e os casos de dengue ocorrem numa conjuntura em que o sistema nacional de saúde está extremamente fragilizado e pouco funcional em vários estados sudaneses, indicou a agência da ONU.
"A Organização Mundial da Saúde estima que 70% a 80% das instalações de saúde nas zonas mais afetadas pelo conflito, como Al-Jazira, Cordofão, Darfur e Cartum, e cerca de 45% das instalações de saúde noutras partes do país, estão agora pouco operacionais ou fechadas", mencionou.
"Neste contexto de violência, os programas de imunização infantil estão a entrar em colapso e as doenças infecciosas estão a propagar-se por todo o país", lamentou.
Assim, o risco de surtos de doenças preveníveis por vacinação é o mais elevado desde o início do conflito, em meados de abril de 2023, alertou.
Foram registados 116 ataques a instalações de saúde desde 15 de abril de 2023, sendo que esses ataques resultaram em 188 mortos e 140 feridos.
O conflito fez com que mais de metade da população do Sudão, ou seja, 25,6 milhões de pessoas, esteja a enfrentar uma crise de fome ou pior, e uma em cada quatro pessoas, ou seja, 8,5 milhões de pessoas, está a enfrentar uma situação de emergência e de insegurança alimentar aguda.
A guerra civil, que começou em abril de 2023, opõe o exército sudanês aos paramilitares, Forças de Apoio Rápido, sob o comando do seu antigo adjunto, Mohamed Hamdane Daglo.
Mais de 11 milhões de pessoas foram deslocadas no Sudão, enquanto outros 3,1 milhões encontraram refúgio além-fronteiras, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações.