O criador de ovinos Carlos Balsa não se lembra de uma razia tão grande no seu rebanho em 27 anos, com a morte de 80 animais adultos e 100 jovens devido à doença da língua azul.
Este produtor alentejano das raças autóctones saloia e merino conta à agência Lusa que a sua exploração foi afetada duas vezes, no final de setembro e já este mês, pela febre catarral ovina, conhecida como doença da língua azul.
“Antes da língua azul, tínhamos cerca de 900 animais, mas já morreram 80 animais adultos e cerca de 100 jovens, devido a abortos e nascimento prematuros”, revela.
Carlos Balsa é um dos cerca de 200 criadores de ovinos que participaram no “Dia Aberto Merino”, organizado pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME) na propriedade que esta instituição possui perto de Évora.
Considerando que “a vacina apareceu tardiamente, quando a maior parte dos efetivos estava contaminado”, o produtor pede que “os serviços sejam céleres a disponibilizar a vacina e consigam ajudar com a vacina, cujo preço é exorbitante”.
O novo serotipo 3 da doença foi detetado, pela primeira vez, em meados de setembro, no distrito de Évora, tendo alastrado, desde então, a todo o Alentejo.
Igualmente presente no evento da ANCORME, o também produtor Ricardo Cabral, com uma exploração de 4.000 ovelhas no concelho de Viana do Alentejo, distrito de Évora, diz à Lusa que a sua empresa agrícola regista elevados prejuízos devido à doença.
“Estamos com uma das maiores parições do ano, que representa 60% da nossa faturação anual, e a taxa de mortalidade é enorme”, adianta, precisando que, em duas semanas, já morreram na propriedade cerca de 100 crias.
Segundo este agricultor, as mortes de borregos nesta exploração em relação a igual período do ano passado subiram 60%.
“Eu creio que esta situação vai ter impacto no mercado do borrego nacional, porque isto está a passar-se na maioria dos criadores de ovinos no Alentejo”, frisa.
Após ter vacinado o efetivo há 17 dias, Ricardo Cabral espera que possa começar agora a fazer efeito e que, nos próximos dias, a situação possa melhorar.
O Centro de Melhoramento, Testagem, Inovação e Reprodução da Raça Merina da ANCORME, onde se realizou o “Dia Aberto Merina”, também não escapou à língua azul e, no final de setembro, os alarmes dispararam com análises positivas à doença.
“Tivemos que cancelar o leilão [que visava a venda de animais que participaram num teste de performance] porque a exploração também foi afetada”, quer o efetivo do teste, quer no de reprodução, indica à Lusa o secretário técnico, Tiago Perloiro.
De acordo com este responsável, no centro da ANCORME morreram cinco dos 49 animais do teste de performance e dois dos 30 do efetivo reprodutor.
A ‘ganhar terreno’ no Alentejo, a doença da língua azul está a dizimar rebanhos e já matou milhares de animais, provocando prejuízos aos criadores, que se queixam de falta de apoios.
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) já reclamou a intervenção urgente do Governo, enquanto a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pediu uma campanha de vacinação gratuita dos animais e um apoio extraordinário aos produtores.