O líder da Autoridade Palestiniana manifestou-se hoje “preocupado” com a possível aprovação de leis no parlamento israelita para proibir a atividade da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), considerando que se cruzará “uma linha vermelha”.
“A questão dos refugiados é o cerne da questão palestiniana e não há solução sem resolver a questão dos refugiados de forma justa”, referiu Mahmud Abbas num comunicado da presidência da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), divulgado pela agência oficial Wafa.
O líder palestiniano garantiu que estes projetos de lei constituem uma “violação do direito internacional e uma provocação a toda a comunidade internacional” e recordou que a UNRWA foi criada “de acordo com uma resolução da ONU”.
“Sem o contínuo apoio político, financeiro e militar dos Estados Unidos à ocupação, [Israel] não teria ousado desafiar a comunidade internacional e aprovar políticas que inundaram a região com violência e instabilidade”, acrescentou Abbas.
Hoje, e após três meses, o parlamento israelita (Knesset) retomou a atividade parlamentar e deverá aprovar dois projetos de lei que visam proibir a atividade da UNRWA em Jerusalém Oriental e retirar os privilégios e imunidades concedidos aos trabalhadores desta agência do sistema da ONU.
Se a atividade da UNRWA em Jerusalém Oriental for interrompida, as operações cruciais da agência na Faixa de Gaza e nos campos de refugiados na Cisjordânia ocupada também serão afetadas, uma vez que Israel deixará de emitir autorizações de entrada, nem haverá coordenação com o Exército nestes territórios palestinianos.
Israel justificou estas leis acusando a UNRWA de ter ligações à organização islamita palestiniana Hamas, com a qual está em guerra desde outubro de 2023, mas sem apresentar provas conclusivas.
A UNRWA foi criada em 1950 pela ONU e presta serviços sociais a mais de cinco milhões de refugiados palestinianos – muitos descendentes das centenas de milhares de pessoas deslocadas pela criação do Estado de Israel – que vivem na Faixa de Gaza, na Cisjordânia ocupada, no Líbano, na Síria e na Jordânia.
Na semana passada, numa entrevista à agência Lusa, em Portugal, a diretora do Gabinete de Representação para a Europa da UNRWA, Marta Lorenzo, admitiu que, após Israel ter acusado a agência da ONU de ter-se deixado infiltrar por membros do Hamas e de uma “intensa investigação”, apenas um dos 19 funcionários da agência suspeitos viu confirmadas as acusações e que os processos aos restantes 18 foram inconclusivos por não haver evidências suficientes.
“Há uma suposição de que trabalhar em áreas de conflito significa que não há risco ou que podemos mitigar todos os riscos. Isso não é possível. Haverá sempre casos em que há riscos e, no caso de Gaza, não há lei nem ordem. As pessoas estão desesperadas e quando a ajuda entra, elas roubam-na. Esse é um exemplo. Houve outros casos e nós tomamos medidas. Mas podemos generalizar o comportamento individual para problemas sistémicos da organização? Eu diria que não. A UNRWA já tem sistemas muito fortes para mitigar esse tipo de risco”, frisou na ocasião a representante.