A ex-secretária de António Lacerda Sales afirmou hoje que se sente “um bode-expiatório” no caso das gémeas luso-brasileiras, acusando o antigo secretário de Estado da Saúde de “levantar suspeições” contra si.
“Temos um ex-secretário de Estado da Saúde a negar qualquer intervenção neste caso e a levantar suspeições em relação a mim, que era secretária do gabinete, supostamente de confiança. Sim, possivelmente [sou] bode-expiatório”, criticou Carla Silva, em resposta à deputada do BE Joana Mortágua.
Carla Silva depôs hoje na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas tratadas em 2020 no Hospital de Santa Maria (Lisboa) com o medicamento Zolgensma.
De acordo com o relatório da Inspeção Geral de Atividades em Saúde (IGAS) sobre este caso, foi Carla Silva quem contactou o Hospital de Santa Maria para marcar a consulta das gémeas - uma informação já negada por Lacerda Sales.
No relatório, o IGAS explicou que Carla Silva remeteu informações como “a identidade das crianças, data de nascimento, diagnóstico e datas em que os pais poderiam estar presentes” para o Hospital de Santa Maria sob orientação do ex-secretário de Estado.
Na audição de hoje, que durou mais de duas horas e meia, a ex-secretária de Lacerda Sales escusou-se a responder se estava zangada com o ex-governante e esclareceu que o pedido à responsável pelo departamento de pediatria do Hospital de Santa Maria, Ana Isabel Lopes, “foi de marcação de consulta”.
“Independentemente de eu ter colocado no assunto do email pedido de avaliação clínica ou ter falado em sinalização, foi um pedido de marcação de consulta”, disse aos deputados.
Em resposta à deputada do Chega Cristina Rodrigues, Carla Silva indicou que hoje atuaria "de forma diferente” e que “não voltaria a fazer o mesmo”.
“Hoje tenho uma visão geral de tudo o que está envolvido neste processo e, claro, faria de forma diferente”, referiu, sublinhando que, se fosse agora, teria pedido a Lacerda Sales para enviar o email para o hospital, em nome próprio.
A secretária lembrou ainda que nunca mais voltou a “ter contacto com Nuno Rebelo de Sousa” e não sabia se Lacerda Sales conhecia o filho do Presidente da República.
“Eu não sei [o que está por trás deste processo]. Eu não sei. Eu estou a dizer a verdade. Eu tenho um secretário de Estado a levantar suspeitas em relação a mim e à minha verdade”, acrescentou.
A antiga secretária de Lacerda Sales foi hoje ouvida no parlamento sem exibir a sua imagem.
A audição foi transmitida, via televisão, pelo Canal Parlamento.
No intervalo do inquérito a Carla Silva, antes do início da segunda ronda, o presidente da comissão, Rui Paulo Sousa, disse aos jornalistas que os serviços da Assembleia da República disponibilizaram “dois ou três guardas da GNR” para fazer o acompanhamento da ex-secretária do ex-governante.
No final, Rui Paulo Sousa pediu desculpa a Carla Silva por as câmaras do Canal Parlamento terem gravado por breves segundos a sua imagem.