A Unidade Local de Saúde de São João (ULSSJ), no Porto, tem recebido e respondido a utentes preocupados com a qualidade do ar devido aos incêndios, disse hoje à Lusa a responsável dos cuidados de saúde primários.
“Contactam-nos por telefone e 'email', por exemplo, porque estão preocupados e, naturalmente, recorrem a nós [profissionais de saúde dos centros de saúde] para esclarecer dúvidas como o uso ou não de máscara ou levar ou não as crianças à escola”, descreveu a diretora clínica dos Cuidados de Saúde Primários da ULSSJ, estrutura hospitalar do Porto, um dos distritos mais afetados pelos incêndios que assolam o país desde domingo.
Em declarações à agência Lusa, Lígia Silva contou que “vários” utentes têm pedido orientações e mostram preocupações com o nível de poluição no ar.
Salvaguardando que as recomendações são diferentes, dependendo da área geográfica em que cada pessoa está, a diretora aproveitou para frisar: “é muito importante seguir as recomendações da Proteção Civil e da Direção-Geral da Saúde e proteger-se”.
Sobre o uso de máscara, Lígia Silva defendeu que esta prática “é uma boa medida de prevenção, mas não de uso generalizado para toda a população", sendo de especial importância "para as pessoas com mais vulnerabilidade [crianças, grávidas, idosos] e pessoas com patologia respiratória".
“Depende dos níveis de exposição. É importante fazer um uso racional da saúde”, sublinhou.
Segundo a especialista, as partículas presentes no ar podem provocar a irritação das vias aéreas e aumentar secreções que podem ser confundidas com outros sintomas, pelo que pediu “atenção a sintomas como irritabilidade da garganta, muita expetoração e tosse persistente”.
“Nesta fase, o importante é que as pessoas estejam atentas aos sinais de alarme e se tiverem um agravamento de doença deem contactar o SNS24. Os casos leves e moderados podem ser vistos nos cuidados de saúde primários e os mais graves encaminhados para as urgências”, sintetizou.
Outro dos conselhos é manter uma boa hidratação, evitar grandes esforços, só sair de casa para deslocações necessárias e manter portas e janelas fechadas.
“Mas, uma pessoa residente no Porto tem recomendações diferentes de quem vive em Campo [freguesia de Valongo próxima de Gondomar, concelho atingido pelos incêndios] por exemplo. É muito importante seguir o que diz a DGS e a Proteção Civil”, reforçou.
Sete pessoas morreram e cerca 120 ficaram feridas, das quais 10 em estado grave, devido aos incêndios que atingem desde domingo as regiões Norte e Centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga e Viseu, que destruíram dezenas de casas e obrigaram a cortar estradas e autoestradas.
A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 106 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas regiões Norte e Centro, já arderam perto de 76 mil hectares.
Segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), hoje pelas 12:00, estavam em curso 44 incêndios, dos quais 23 eram considerados ocorrências significativas, que envolviam mais de 3.000 operacionais, apoiados por perto de mil meios terrestres e 19 meios aéreos.
O Governo declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias e alargou até quinta-feira a situação de alerta, face às previsões meteorológicas.