SAÚDE QUE SE VÊ

Jovens combatem doenças mentais através da arte

Lusa
30-08-2024 17:12h

Um programa inovador baseado nas artes permitiu reduzir o estigma em relação aos problemas com a saúde mental junto de uma mais de uma centena de jovens portugueses, apontam os resultados preliminares hoje divulgados.

“O programa teve eficácia em todas as variáveis que quisemos trabalhar, porque o estigma foi reduzido não só logo a seguir ao fim do programa, como passados seis meses”, afirmou a coordenadora do projeto ‘WeARTolerance’, Ana Beato, à agência Lusa.

Intervenções semelhantes à do projeto, que combinam a psicoeducação com atividades artísticas, podem contribuir para a melhoria das atitudes em relação à saúde mental e para a redução do estigma em jovens, o que terá um impacto positivo nas gerações futuras, concluíram os investigadores da Universidade Lusófona.

A equipa, da qual fazem parte psicólogos e professores das várias artes, aguarda a publicação dos primeiros resultados do projeto na revista científica Plus One.

Com início em dezembro de 2023 e fim em abril de 2025, o programa destina-se a adolescentes, entre os 14 e os 24 anos.

“Este projeto tinha como objetivo reduzir o estigma de pessoas com problemas de saúde mental, porque ainda há muita resistência da comunidade em geral em pedir ajuda e dificuldades em admitir que se tem este tipo de problemas para se conseguir detetá-los e necessidade de aumentar a literacia em saúde mental”, justificou Ana Beato, também psicóloga clínica.

O público-alvo foi escolhido tendo em conta que os problemas e o estigma associado acabam por surgir “muito cedo” e começam a ser sinalizados na adolescência e deverão ser tratados logo que são sinalizados.

A equipa de investigadores acabou por não desenvolver o programa em meio escolar, mas antes numa “experiência intensa e imersiva de curto prazo” em diferentes áreas artísticas (artes visuais, cinema, música, canto, dança e teatro).

“Achámos que as artes são o veículo certo, porque muitos jovens estão despertos para a música e para as artes em geral e existem evidências de que são bons veículos para trabalhar com jovens estas temáticas”, explicou a investigadora.

O programa juntou 125 jovens com e sem problemas de saúde mental ao longo de quatro dias na Universidade Lusófona, onde participaram em diversos ateliês artísticos dinamizados por professores dessas áreas e sessões psicoeducativas dinamizadas pelos psicólogos.

O programa dividiu-se em duas fases, a primeira das quais de avaliação quantitativa sobre os efeitos do programa na literacia em saúde mental e a segunda de avaliação sobre as perspetivas e satisfação dos participantes, através de questionários a eles realizados uma semana antes do programa e uma semana e seis meses após o programa.

Os resultados mostraram o aumento dos conhecimentos sobre saúde mental, diminuição da distância social, da ansiedade intergrupal e do estigma social após a intervenção, maiores competências pessoais e sociais na comunicação e identificação de emoções, bem como sensibilidade para o papel da coesão social e apoio comunitário no combate ao estigma.

“É uma experiência na comunidade. Quisemos levar os projetos científicos à comunidade”, disse Ana Beato.

Vários espetáculos são hoje apresentados em Óbidos resultantes de oficinas aí realizadas em ambiente de residência artística no âmbito do programa, financiado pela Fundação La Caixa.

Além da publicação científica dos resultados do programa, os investigadores pretendem ainda elaborar um manual para ser usado pela comunidade.

Estima-se que em 2019 os problemas de saúde mental afetavam mais de 2,25 milhões de pessoas, o que corresponde a 22% da população portuguesa, número que ultrapassa os 16,7% da União Europeia.

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