O surto do novo coronavírus, que já infetou 41 pessoas em Portugal, está a levar a uma série de cancelamentos e adiamentos no setor da Cultura, mas também a alguma incerteza sobre se a agenda se mantém.
A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, anunciou hoje que iria cancelar ou, quando possível, adiar, os 12 concertos da temporada de música até dia 03 de abril, data de validade da orientação emitida pela Direção-Geral da Saúde (DGS) em relação a eventos de massas, que recomenda a suspensão de acontecimentos com mais de mil pessoas em espaços fechados ou 5.000 participantes em locais abertos.
Por seu lado, o Centro Cultural de Belém (CCB) e o Organismo de Produção Artística (OPART) anunciaram o adiamento de “A Valquíria”, que iria subir ao palco daquela sala lisboeta na quinta-feira e no domingo, para 22 e 25 de outubro. Quanto ao espetáculo no Coliseu do Porto, marcado para dia 21 de março, também foi adiado, mas para data ainda a definir.
À semelhança dos equipamentos afetos à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), a Fundação José Saramago, também em Lisboa, decidiu suspender “todas as iniciativas públicas e visitas escolares à fundação até ao final do mês”.
Também o grupo Porto Editora disse que iria suspender todas as atividades públicas agendadas até ao final de março, incluindo visitas de escritores a escolas e iniciativas como o “Porto de Encontro”.
O Teatro Nacional São João, no Porto, anunciou, na segunda-feira, o cancelamento da peça “The Scarlet Letter”, decorrendo “da situação de saúde pública que se vive presentemente em Itália, de onde provinham alguns elementos da equipa artística, e que criou constrangimentos ao nível dos transportes aéreos em várias regiões do país”.
Várias autarquias, mesmo para além dos concelhos com ‘clusters’ de transmissão do novo coronavírus, já anunciaram o encerramento de equipamentos culturais, com particular destaque para o Porto e para Lisboa, que encerraram os museus, teatros e demais espaços camarários.
Na música, o concerto de Tony Carreira na Altice Arena, em Lisboa, previsto para sábado, foi adiado para dia 27 de novembro, enquanto os espetáculos do “Revenge of the 90’s”, em Faro, na sexta-feira, e no dia 21 de março, em Guimarães, foram adiados sem nova data.
Por outro lado, o Hard Club, no Porto, anunciou que iria “manter o agendamento normal dos concertos, até indicações em contrário, seja por parte da própria DGS, promotores, bandas e/ou outras entidades”.
Na Casa da Música, também no Porto, a programação vai manter-se, até indicação em contrário, tal como as visitas guiadas ao edifício, embora estejam a ser canceladas múltiplas visitas por parte de escolas, como disse à Lusa fonte oficial da instituição.
A Música no Coração declarou à Lusa, através de fonte oficial, que está a trabalhar “em estreita colaboração com as autoridades competentes em todas as áreas, cujas indicações [segue] sempre com rigor”.
“Os festivais de verão estão ainda a meses de distância e estamos a acompanhar o tema de forma atenta e serena, como tem sido a recomendação da DGS e restantes autoridades competentes nesta área”, acrescentou a mesma fonte.
Quer a RTP quer a TVI emitiram comunicados a dar conta de que os programas do dia que normalmente contam com público em estúdio deixariam de o ter.
No cinema, a NOS, a maior exibidora nacional, com 40,9% do número de ecrãs, disse à Lusa ter ativado “há várias semanas, um Gabinete de Acompanhamento do Covid-19”, que “tem vindo a trabalhar, em total alinhamento com as orientações da DGS e da OMS [Organização Mundial de Saúde], em medidas de prevenção que, por um lado, assegurem a continuidade de negócio e, por outro, acautelem a proteção dos seus clientes, colaboradores, parceiros”.
Assim, a NOS assegurou que os seus cinemas continuam “a funcionar dentro da normalidade estando a ser, naturalmente, acauteladas todas as medidas de higiene e segurança.”
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.000 mortos.
Cerca de 114 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países, e mais de 63 mil recuperaram.
Portugal regista 41 casos confirmados de infeção, segundo a DGS.
A DGS comunicou também que em Portugal se atingiu um total de 375 casos suspeitos desde o início da epidemia, 83 dos quais ainda a aguardar resultados laboratoriais.
Face ao aumento de casos, o Governo ordenou a suspensão temporária de visitas em hospitais, lares e estabelecimentos prisionais na região Norte, até agora a mais afetada.
Foram também encerrados alguns estabelecimentos de ensino, sobretudo no Norte do País, assim como ginásios, bibliotecas, piscinas e cinemas.
Os residentes nos concelhos de Felgueiras e Lousada, no distrito do Porto, foram aconselhados a evitar deslocações desnecessárias.