As comissões de utentes de Almada, Seixal, Barreiro e Setúbal descrevem como preocupante o encerramento das urgências de Obstetrícia e Ginecologia na região e consideram que “é um sinal de desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde”.
As grávidas da Península de Setúbal terão de se deslocar nos próximos dias a Lisboa, se precisarem de ir ao hospital, uma vez que os serviços de urgência de Obstetrícia dos três hospitais públicos da zona – Setúbal, Garcia de Orta (Almada-Seixal) e Barreiro – têm previsão de encerramento pelo menos até ao dia 14 de agosto.
Segundo os Censos de 2021, os nove concelhos da Península de Setúbal (Almada, Setúbal, Seixal, Sesimbra, Palmela, Montijo, Moita, Barreiro e Alcochete), servidos por estas três unidades, têm 808.689 residentes.
“Tudo isto parece uma estratégia bem delineada e bem montada para descredibilizar o Serviço Nacional de Saúde [SNS] e potenciar a privatização da saúde”, disse à Lusa José Lourenço, da Comissão de Utentes do Seixal, concelho cuja população tem como hospital de referência o Garcia de Orta, em Almada, e que tem vindo a exigir um equipamento próprio no município.
A comissão de utentes “está preocupadíssima pela perturbação que a situação está a criar nas utentes grávidas” e considera que este é o resultado do desinvestimento nos recursos humanos.
“As Unidades Locais de Saúde são todas diferentes em termos de gestão, mas têm as mesmas dificuldades quanto à contratação de profissionais. Se não há tabela atrativa, é lógico que, por mais vagas que se abra, ficam vazias e os médicos vão saindo e não vão entrando novos médicos”, frisou José Lourenço.
Rosa Maria, da Comissão de Utentes de Setúbal, partilha da opinião, considerando que enquanto os profissionais de saúde não tiverem remunerações compatíveis e condições de trabalho adequadas a situação não vai mudar.
Por outro lado, também considera que o cenário evidencia uma estratégia para “acabar com o SNS e transferir tudo para o privado”.
Jéssica Pereira, da Comissão de Utentes do Arco Ribeirinho (Barreiro, Montijo, Moita e Alcochete), entende estar a ocorrer na região o despojamento de um serviço essencial, “um retrocesso de décadas”.
“Há um estrangulamento efetivo das oportunidades para se ser mãe com tranquilidade. Em toda a Área Metropolitana de Lisboa há um estrangulamento de serviços”, frisou.
Para Carlos Leal, da Comissão de Utentes de Almada, esta situação é recorrente e penaliza fortemente as populações.
Segundo as escalas de urgência publicadas no Portal do SNS, às 12:30 de hoje estava previsto o fecho, no sábado, de sete urgências de Ginecologia e Obstetrícia, e de oito no domingo, a maioria na região de Lisboa e Vale do Tejo (em que se insere a Margem Sul), além de três de Pediatria.
A presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) exigiu hoje um ministro da Saúde “com competência para a função”, alertando para os riscos de a atual “política catastrófica” poder, em última análise, resultar em mortes de grávidas e bebés.
Joana Bordalo e Sá lembrou que a Fnam avisou e antecipou que “era inevitável o que está a acontecer agora”, com encerramentos de vários serviços de urgências devido à dificuldade de preencher escalas.