O Irão vai reconhecer como “mártires” os médicos e pessoal de enfermagem que morreram no combate à epidemia de Covid-19, anunciou hoje o Guia Supremo iraniano e quando o surto já provocou 291 vítimas da doença no país.
A decisão do ‘ayatollah’ Ali Khamenei surge no âmbito de uma campanha de propaganda que tenta relacionar o combate contra o novo coronavírus à prolongada e sangrenta guerra com o Iraque na década de 1980, comparando os “mártires” que caíram no campo de batalha aos profissionais de saúde que sucumbiram à doença.
O aumento das mortes diárias no Irão motivadas pela epidemia sugere que o combate contra o novo coronavírus está longe de concluída, e quando continuam a morrer pessoas por ingerirem metanol na falsa crença de que destrói o vírus.
No Médio Oriente, cerca de 8.600 pessoas contraíram a epidemia, a maioria no Irão, que mantém um dos piores registos de mortes a nível mundial fora da China, o epicentro do surto.
Hoje, o porta-voz do ministro da Saúde, Kianoush Jahanpour, atualizou os números de baixas motivadas pelo Covid-19 ao anunciar mais 54 mortes, que representam um aumento de 18% em relação a segunda-feira, e mais 12% de casos confirmados.
Jahanpour admitiu que os números no Irão vão continuar a subir antes do Nowruz, o Novo Ano Persa, que se celebra em 20 de março.
O porta-voz exortou ainda a população a limitar as suas deslocações, e quando as forças policiais já começam a enfrentar dificuldades para assegurar o controlo das barreiras rodoviárias instaladas entre as principais cidades. O Irão ainda não adotou as vastas medidas de quarentena já em vigor na China ou Itália.
“A percentagem de proliferação da doença ainda continua a subir”, disse em conferência de imprensa transmitida pela televisão.
Em paralelo, Ali Khamenei anunciou que os profissionais de saúde que morreram a combater o surto de Cofid-19 serão considerados mártires pela República Islâmica.
As famílias dos mártires, geralmente membros dos serviços de segurança e das Forças Armadas, recebem subsídios e benefícios do Estado.
A medida também confere um sentido de importância religiosa aos que combatem o vírus entre a teocracia xiita, que diversos analistas consideram estar a divulgar em baixa o número total de casos, sublinha a agência noticiosa Associated Press (AP).
Em separado, Ali Khamenei anunciou que não vai proferir o seu discurso anual do Nowruz na cidade sagrada xiita de Mashhad.
Um rumor que circula no Irão sobre a cura do coronavírus pelo álcool provocou 44, após terem ingerido álcool de fabrico caseiro clandestino, anunciou hoje a agência noticiosa oficial IRNA.
O procurador adjunto de Ahvaz (sul do país) anunciou a detenção de sete pessoas envolvidas no fabrico destas bebidas adulteradas.
Em comunicado, a companhia aérea Iran Air anunciou ainda hoje que vai retomar os seus voos para a Europa, após uma suspensão de dois dias devido a uma decisão aparentemente ligada a uma proibição que abrangia os seus aviões nos céus europeus.
“Todos os voos vão ser retomados, à exceção dos previstos para Viena, Estocolmo e Gotemburgo, que anularam os voos devido à epidemia do novo coronavírus”, indicou a Iran Air.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.000 mortos.
Cerca de 114 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países, e mais de 63 mil recuperaram.
Nos últimos dias, a Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China, com 463 mortos e mais de 9.100 contaminados pelo novo coronavírus, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia.
A quarentena imposta pelo governo italiano ao Norte do País foi alargada a toda a Itália.
O Governo português decidiu suspender todos os voos com destino ou origem nas zonas mais afetadas em Itália, recomendando também a suspensão de eventos em espaços abertos com mais de 5.000 pessoas.
A China registou segunda-feira mais uma queda no número de novos casos de infeção, 19, face a 40 no dia anterior, somando agora um total de 80.754 infetados e 3.136 mortos, na China Continental.
Portugal regista 41 casos confirmados de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
A DGS comunicou também que em Portugal se atingiu um total de 375 casos suspeitos desde o início da epidemia, 83 dos quais ainda a aguardar resultados laboratoriais.
Face ao aumento de casos, o Governo ordenou a suspensão temporária de visitas em hospitais, lares e estabelecimentos prisionais na região Norte, até agora a mais afetada.
Foram também encerrados alguns estabelecimentos de ensino, sobretudo no Norte do País, assim como ginásios, bibliotecas, piscinas e cinemas.
Os residentes nos concelhos de Felgueiras e Lousada, no distrito do Porto, foram aconselhados a evitar deslocações desnecessárias.