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Covid-19: Aumento de insolvências não é “tendência” mas pode agravar-se – Especialistas

LUSA
10-03-2020 18:32h

O aumento das insolvências no início do ano ainda não é uma “tendência”, mas começa a gerar preocupação, tendo em conta um clima internacional de arrefecimento económico, agravado pelo surto de Covid-19, afirmaram à Lusa alguns especialistas.

“Estes números são só do mês de janeiro e não representam uma tendência. Não podemos olhar para isto de forma estrutural”, adiantou Patrícia Teixeira Lopes, ‘Associate Dean’ da Porto Business School.

Em fevereiro, a consultora Informa D&B divulgou dados segundo os quais as insolvências aumentaram 18,6% em janeiro e a criação de novas empresas recuou 21% face ao mesmo período do ano passado.

Por sua vez, a Iberinform, uma filial da seguradora Crédito y Caució contabilizou um aumento de 35,1% dos processos de insolvência em Portugal em janeiro, para 566, face a igual mês de 2019, enquanto a constituição de empresas recuou 23,2%, para 5.120, em termos homólogos. E a Cosec – Companhia de Seguro de Créditos estima que as insolvências de empresas em Portugal deverão aumentar perto de 2,0%, para 2.590, este ano face a 2019.

Os especialistas aconselhem cautela quanto a análises para o futuro.

“Ainda não dou muito significado a isto, mas se começar a subir é preocupante. Acho que o clima virou”, alerta João Duque, professor do ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão.

O professor aponta alguns outros fatores que podem ter contribuído para o aumento das insolvências, como questões fiscais que possam ter ditado um encerramento, para evitar mais impostos este ano.

Patrícia Teixeira Lopes alerta ainda para a necessidade de “olhar para o quadro maior, a economia e o cenário macroeconómico”, onde há “alguns sinais de abrandamento das economias a nível mundial, e como Portugal é uma economia pequena muito aberta”, é “um tecido empresarial de microempresas e com uma grande dependência do exterior”.

A ‘Associate Dean’ diz que não saber se o surto de coronavírus “vai levar a insolvências”, mas acredita que gere dificuldades, relacionadas com importações da China e com a redução do consumo.

Rui Constantino, economista-chefe do banco Santander, também aponta a interligação das economias como risco, tendo em conta a situação atual.

“Em termos de impacto nas exportações e no turismo, poderá afetar os fluxos comerciais, através da integração das cadeias de valor e das componentes importadas da China, num primeiro momento, e com os demais parceiros, num segundo momento. Por outro lado, as alterações no comportamento dos consumidores, com uma redução das atividades em espaços públicos, seja o turismo (que estaremos mais à espera de ver), seja em eventos, refeições fora de casa” podem aumentar o impacto, defende.

O coronavírus, aliás, é a incógnita para os próximos meses no desenrolar da situação das empresas.

“É possível que haja efeito no turismo, nos portos por exemplo”, refere João Duque, que acredita que os impactos do surto serão mais sentidos nas empresas no segundo trimestre.

Apesar das preocupações dominadas pelo novo coronavírus, Patrícia Teixeira Lopes acredita que o tecido empresarial nacional tem outras fragilidades, que são evidentes, por exemplo, no turismo.

“O turismo é uma atividade que é interessante, mas que até ao momento não tem trazido valor acrescentado. É um setor interessante para o país, dadas as nossas características, mas falta que a economia associada a este setor seja de valor acrescentado, com quadros qualificados, com salários elevados, no fundo sustentável para trazer crescimento para o futuro”, indica a especialista.

Além disso, Patrícia Teixeira Lopes alerta para o aumento de microempresas, muitas vezes por culpa da crise de há dez anos, que obrigou muitas pessoas a lançar negócios próprios, em vez de trabalharem por conta de outrem.

“São empreendedores, novas ‘startup’, mas noutros casos têm novamente pouco valor acrescentado e podem dar problemas”, sublinha.

“O cenário macro não é animador e pode vir a acontecer que o crescimento económico não seja o que se deseja, como resultado de algumas empresas não produzirem o que se pretende e, portanto, terem que fechar no futuro”, explica Patrícia Teixeira Lopes.

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