Os hospitais em El Fasher, no Sudão, foram atacados pela décima vez em 80 dias, em 29 de julho, anunciaram hoje os Médicos Sem Fronteiras (MSF), que operam no local.
Nestes ataques a hospitais, pelo menos nove pessoas foram mortas e pelo menos 38 ficaram feridas, indicaram os MSF num comunicado.
"Três profissionais de saúde foram mortos no ataque [de 29 de julho] e 25 pessoas ficaram feridas, incluindo pessoas deslocadas que estavam abrigadas numa mesquita próxima que também foi atingida. O bombardeamento ocorreu enquanto El Fasher estava a ser atacada pelas Forças de Apoio Rápido (RSF)", explicaram os MSF.
Desde que os combates se intensificaram, há quase 12 semanas, mais de 2.170 pessoas feridas foram tratadas nos hospitais apoiados pelos MSF em El Fasher, e mais de 300 pessoas morreram devido aos ferimentos.
O número de feridos continua a aumentar no hospital saudita, mas os veículos dos MSF continuam a ser retidos pelas RSF na cidade de Kabkabiya e os cuidados médicos estão a esgotar-se rapidamente, colocando as atividades de salvamento de vidas ainda mais em risco, salientou.
"Não sabemos se os hospitais estão a ser intencionalmente visados, mas o incidente de segunda-feira mostra que os beligerantes não estão a tomar quaisquer precauções para os poupar", disse o chefe da resposta de emergência dos MSF no Sudão, Stéphane Doyon.
"Não estão a fazer qualquer esforço para evitar a morte de civis ou para assegurar a proteção dos pacientes e do pessoal médico. Como resultado, muitas mais vidas estão a ser perdidas", acrescentou.
"As partes beligerantes conhecem bem a localização do hospital saudita e sabem também que é o último hospital público que resta na cidade com capacidade para tratar os feridos", afirmou Doyon.
O representante dos MSF frisou ainda que o hospital saudita já foi atacado quatro vezes e que se "ficar fora de serviço, como aconteceu com o hospital South, quando o atacaram em junho pela quinta vez, não haverá mais nenhum lugar na cidade onde os feridos, ou as mulheres que precisam de cesarianas de emergência que salvam vidas, possam ser operados", lamentou.
"O hospital pediátrico também ficou inoperacional em maio, quando foi danificado por uma bomba que caiu nas proximidades, matando três pessoas, incluindo duas crianças que estavam na unidade de cuidados intensivos", disse Doyon.
"As crianças que precisam de tratamento hospitalar estão agora a ser tratadas numa pequena clínica de saúde com equipamento limitado - ou, se tiverem ferimentos de guerra, estão a ser tratadas no hospital saudita", explicou.
Se o bloqueio à ajuda humanitária não for levantado com urgência, o número de mortos será ainda maior, indicou.
Relativamente aos veículos retidos dos MSF pelas RSF, que contém material médico, Doyon alertou também que esse conteúdo é "desesperadamente necessário".
"Eles [os veículos] não contêm apenas material para o hospital saudita - também contêm alimentos terapêuticos e suplementos médicos para crianças no campo de Zamzam, onde há uma crise catastrófica de desnutrição", frisou Doyon.
"Como estes fornecimentos ainda não chegaram, só nos restam alimentos terapêuticos suficientes para mais algumas semanas. Muitas crianças já estão à beira da morte, por isso estes fornecimentos são necessários para lhes salvar a vida", declarou.
Os MSF pedem a todas as partes que parem de atacar os hospitais em El Fasher e em todo o Sudão, e que as RSF libertem os seus veículos em Kabkabiya.
O conflito, que começou em abril de 2023 entre o exército e as RSF, empurrou as pessoas para a fome e criou a maior crise de deslocados do mundo, com mais de dez milhões de pessoas forçadas a fugir das suas casas, de acordo com a agência das Nações Unidas (ONU) para as migrações, sendo que mais de dois milhões fugiram para países vizinhos.