A consultora do Presidente da República para os Assuntos Sociais, Sociedade e Comunidades admitiu hoje que poderá ter contactado o Hospital Dona Estefânia, mas recusou ter falado com o Hospital de Santa Maria sobre o caso das gémeas.
"A ter falado com um hospital foi apenas com o Dona Estefânia", afirmou Maria João Ruela na comissão de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com o medicamento Zolgensma.
Em resposta ao PS, a consultora disse não ter registo desse contacto, razão pela qual não pode confirmar se esse contacto foi feito, mas considerou "natural que as informações" que transmitiu "tenham sido obtidas junto do hospital".
"Não há problema nenhum nisso", defendeu, indicando que o contacto deve ter acontecido por telefone.
Maria João Ruela disse que poderá ter contactado o Dona Estefânia porque a informação que tinha sido enviada por Nuno Rebelo de Sousa para a Presidência da República era que o processo das duas crianças encontrava-se nesse hospital e que "só soube que as bebés tinham sido tratadas no Santa Maria" em novembro do ano passado, quando viu as notícias sobre o caso.
Antes, em resposta ao CDS-PP, a assessora do Presidente da República indicou que, por isso, "para o Santa Maria não teria sido de certeza" feito nenhum contacto naquela altura.
Maria João Ruela afirmou que não se lembra nem tem registo com quem terá falado em concreto e que o objetivo do contacto terá sido "obter informação genérica".
"A informação obtida foi a transmitida ao chefe da Casa Civil e depois enviada no email de informação ao Presidente da República", indicou.
Na resposta ao PSD, a antiga jornalista referiu que a informação que apurou foi "tão só que é uma decisão inteiramente médica, do hospital e do Infarmed".
A consultora da Casa Civil do Presidente da República disse que quando a Presidência recebe algum contacto por parte de cidadãos e é encaminhado para si, desenvolve diligência para tentar "perceber os contornos destas situações" e para onde pode ser encaminhado.
Ruela explicou que habitualmente faz "contactos genéricos" e, em relação à menção há existência de listas de espera para aceder ao tratamento com o medicamento Zolgensma, referida pelo chefe da Casa Civil num email, referiu que na audição de terça-feira Fernando Frutuoso de Melo "já disse que foi da autoria dele".
Neste caso das duas crianças que sofrem de atrofia muscular espinal, a primeira coisa que fez foi perguntar ao filho do Presidente da República, que fez chegar o caso ao pai, se as gémeas estavam em Portugal ou no Brasil naquela altura, em 2019.
"Eu desliguei-me deste processo ao fim de dois dias", indicou, e reiterou que "não houve qualquer excecionalidade no tratamento deste caso", nem foi pedida.
Maria João Ruela disse que se recordava do caso das gémeas quando viu as notícias, no final do ano passado e não valorizou porque "sabia o que tinha feito".
"Não era motivo para isso, só mais tarde as coisas ganharam uma dinâmica que eu até estranho porque na realidade, na minha cabeça é muito simples, o que foi feito na Presidência da República foi o que é feito em relação a outros casos", indicou, dizendo não ter "qualquer dúvida" em relação ao que fez em 2019.
"Naturalmente que as coisas à luz dos factos quatro ou cinco anos depois ganham uma espiral que parecem ser outra cosia, mas naquilo que eu sei que fiz foi simplesmente porque fiz até aí e o que continuei a fazer depois. Outros contornos ultrapassam-me", defendeu.
Questionada pelo PS se existem outros casos tratados da mesma forma, a assessora do chefe de Estado disse que seguramente existem "vários casos" na Presidência da República.